sábado, 16 de fevereiro de 2019


SEGUNDO  ANO
REDAÇÃO




O Cotidiano do telespectador
Parte 1

Oito horas da noite. O homem salta do ônibus, caminHa até seu prédio; o porteiro lhe abre eletronicamente a grade. Ele entra e, enquanto espera o elevador, dá uma olhadela na correspondência que havia sido guardada para ele. O elevador chega; já há mais gente esperando. Ele sobe. Está cansado; suou o dia inteiro; não vê a hora de jogar-se numa poltrona e descansar. Entra em casa. Cheiro de jantinha pronta. Beija a mulher, os filhos vê saudá-lo pulando e agarrando-se em suas pernas. Para eles tudo é festa, tudo é motivo para uma nova brincadeira. A sopa está quentinha e cai como um bálsamo. Na televisão, o apresentador do telejornal começa a falar com voz firme e oficial sobre os acontecimentos do dia, ao som alucinante das rotativas da imprensa. É o show de notícias que vai começar.
O homem toma silenciosamente sua sopa, mal conversa com a mulher que o acompanha à mesa; as crianças correm pelo apartamento, indiferentes ao cansaço do pai. A televisão fala, mostra cenas, fotografias, desenhos. Uma coisa atrás da outra, num ritmo tão louco que nem dá para prestar atenção. São cores, sons, impactos, vozes, caras tudo um após o outro. o dia foi exaustivo. Este homem só quer entregar-se ao sofá. Tem pouco ânimo para falar, para fazer qualquer coisa – muito menos para ouvir reclamações da mulher, do vizinho ou da mãe, que vive lhe telefonando pedindo para não se esquecer dela.

Parte 2

Esse é o cotidiano do homem moderno se é feliz, não se sabe. Pode usar todos os benefícios da moderna sociedade industrial que foram inventados para lhe facilitar a vida: o telefone, o automóvel, a televisão, a geladeira, o freezer, o videocassete, a lava-roupa e tantas outras coisas. Quem vê de fora pensa que esse homem vive como um sultão, que as máquinas fazem tudo por ele e que ele atingiu a ociosidade ideal. Mas parece que não é bem esse o caso. Não seria o de perguntar se ele, hoje, com tudo isso que tem a seu dispor, é mais feliz, vive melhor, tem mais paz do que o homem de antigamente?
Ciro Marcondes Filho, Televisão – a vida pelo vídeo


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