quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019




Aula: 03
Viagem pela Literatura

Em Portugal:  Época Medieval – 1100 a 1400

Trovadorismo – 1189/1198 -  Predomínio da poesia. Cantigas de Amor/ Amigo/ Escárnio/ Maldizer  -     Cantiga de amigo:   TEXTO - CANTAR DE AMIGO
À beira do rio fui dançar... Dançando    Me estava entretendo,                  Muito a sós Comigo,         Quando na outra margem, como se escondendo              Para que eu não visse que me estava olhando,                    Por entre os salgueiros vi o meu amigo.
Vi o meu amigo cujos olhos tristes        Certo se alegravam                   De me ver dançar,
Fui largando as roupas que me embaraçavam,  Fui soltando as tranças... Olhos que me vistes,   Doces olhos tristes, não no ireis contar!
Que o amor é lume bem eu sei... que logo     Que vi meu amigo            Por entre os salgueiros,    Melhor eu dançava, já não só comigo,   Toda num quebranto, ao mesmo tempo em fogo,    Melhor eu movia mãos e pés ligeiros.

Época Clássica -  1500 -  séc. XVI – Humanismo e Classicismo – exalta o antropocentrismo, a razão. Predomínio da prosa. Destaques: Criação do teatro português por Gil Vicente. Grande obra os Lusíadas de Camões.
 As armas e os barões assinalados                 Que, da Ocidental praia Lusitana, 
Por mares nunca de antes navegados              Passaram ainda além da Taprobana 
E em perigos e guerras esforçados                 Mais do que prometia a força humana, 
E entre gente remota edificaram                   Novo Reino, que tanto sublimaram; 
  
E também as memórias gloriosas                   Daqueles Reis que foram dilatando 
A Fé, o Império, e as terras viciosas              De África e de Ásia andaram devastando, 
E aqueles que por obras valerosas                 Se vão da lei da Morte libertando: 
Cantando espalharei por toda parte,                         Se a tanto me ajudar o engenho e arte.
 
  
No Brasil:   Quinhentismo –  séc. XVI - anos 1500 a 1601 – literatura informativa  com Pero Vaz de Caminha. Literatura Jesuítica com José de Anchieta e Padre Manoel da Nóbrega. - uma literatura ligada ao Brasil, mas que denota as ambições e as intenções do homem europeu.
  Carta a El-Rei dom Manuel sobre o achamento do Brasil
Senhor, posto que o capitão-mor desta vossa frota e assim os outros capitães escrevam a Vossa Alteza a nova do achamento desta vossa terra, que se ora nesta navegação achou, não deixarei também de dar disso minha conta.(...)
E assim seguimos nosso caminho por este mar, de longo até terça-feira d’oitavas de Páscoa, que foram 21 dias d’Abril, que topamos alguns sinais de terra.(...) E á quarta-feira seguinte, pela manhã, topamos aves, a que chamam fura-buxos. E neste dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra, isto é, primeiramente d’um grande monte, mui alto e redondo, e d’outras serras mais baixas a sul dele e de terra chã co grandes arvoredos, ao qual monte alto o capitão pôs n nome o Monte Pascoal e á terra a Terra de Vera Cruz. (...)
E dali houvemos vista d’homens, que andavam pela praia, de 7 ou 8, segundo os navios pequenos disseram, por chegarem primeiro. (...) a feição deles é serem pardos, maneira d’avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos. Andam nus, sem nenhuma cobertura, nem estimam nenhuma cousa cobrir nem mostrar suas vergonhas. E estão acerca disso com tanta inocência como têm em mostrar o rosto.(...) ali andavam entre  eles três ou quatro moças, bem moças e bem gentis, com cabelos muito pretos, compridos, pelas espáduas; e suas vergonhas tão latas e tão çaradinhas e tão limpas das cabeleiras que de as nós muito bem olharmos não tínhamos nenhuma vergonha. (...)
E uma daquelas moças era toda tinta, de fundo a cima, daquela tintura, a qual, certo, era tão bem feita e tão redonda e sua vergonha, que ela não tinha, tão graciosa, que a muitas mulheres de nossa terra, vendo-lhe tais feições, fizer vergonha, por não terem a sua como ela. (...)

Barroco -  Século XVII a séc. XVIII – anos 1601 a 1768 – conflito teocentrismo e antropocentrismo. Exagero, conflitos e desequilíbrios.. Destaque: Gregório de Matos Guerra

A Cristo S.N. Crucificado estando o poeta na última hora de sua vida
Meu Deus, que estais pendente de um madeiro,               Em cuja lei protesto de viver,
Em cuja santa lei hei de morrer                                   Animoso, constante, firme e inteiro:

Neste lance, por ser o derradeiro,                               Pois vejo a minha vida anoitecer,
É, meu Jesus, a hora de se ver                                   A brandura de um Pai, manso Cordeiro

Arcadismo Século XVIII -  1768 a 1836 – bucolismo, objetividade, crítica aos grandes centros.
Quem deixa o trato pastoril amado      Pela ingrata, civil correspondência,
Ou desconhece o rosto da violência, Ou do retiro a paz não tem provado.

Que bem é ver nos campos transladado       No gênio do pastor, o da inocência!
E que mal é no trato, e na aparência.             Ver sempre o cortesão dissimulado!

Romantismo - Século XIX: 1836 a  1881 -   sentimentalismo, nacionalismo, denúncia social.         Soneto

Pálida, à luz da lâmpada sombria,   Sobre o leito de flores reclinada,
Como a lua por noite embalsamada,            Entre as nuvens do amor ela dormia!

Era a virgem do mar! na escuma fria           Pela maré das águas embalada!
Era um anjo entre nuvens d' alvorada          Que em sonhos se banhava e se esquecia!

Era mais bela! o seio palpitando...                Negros olhos as palpebras abrindo...
Formas nuas no leito resvalando...
Não te rias de mim, meu anjo lindo!  Por ti - as noites eu velei chorando,
Por ti - nos sonhos morrerei sorrindo!

(Álvares de Azevedo)


Canção do Exílo
Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá .As aves, que aqui gorjeiam  Não gorjeiam como lá.       
Nosso céu tem mais estrelas Nossas várzeas têm mais flores,    Nossos bosques têm mais vida            Nossa vida mais amores.                  
Em cismar, sozinho, à noite,   Mais prazer encontro eu lá      Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá 
Minha terra tem primores,            Que tais não encontro eu cá            Em cismar sozinho, à noite -         
Mais prazer encontro eu lá            Minha terra tem palmeiras            Onde canta o Sabiá.              (......)         

Gonçalves Dias
Navio Negreiro
Era um sonho dantesco!... o tombadilho,         Que das luzernas avermelha o brilho,
Em sangue a se banhar.                                        Tinir de ferros ... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite,         Horrendos a dançar...

Negras mulheres, suspendendo às tetas                       Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:                                      Outras, moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,               Em ânsia e mágoa vãs!
Castro Alves


Parnasianismo – séc. XIX - pregando a poesia pela poesia e a busca por rimas e formas perfeitas. No Brasil, o grande nome parnasiano é Olavo Bilac, conhecido por suas poesias eróticas e pela letra do Hino à Bandeira. 
"Invejo ourives quando escrevo                          Imito o amor
Com que ele, em ouro, o alto relevo                   Faz de uma flor.(...)
Por isso, corre por servir-me                                 Sobre o papel
A pena, como em prata firme                               Corre o cinzel(...)
Torce, aprimora, alteia, lima                                 A frase; e, enfim
No verso de ouro engasta a rima                        Como um rubim                  (...) 
Olavo Bilac

Realismo  - século XIX -  1881 a 1893. Em 1882, Machado de Assis publica Memórias Póstumas de Brás Cubas, um dos principais clássicos brasileiros. 
Segue um fragmento do conto O escrivão Coimbra do realista Machado de Assis. 
Aparentemente há poucos espetáculos tão melancólicos como um ancião comprando um bilhete de loteria. Bem considerado, é alegre; essa persistência em crer, quando tudo se ajusta ao descrer, mostra que a pessoa é ainda forte e moça. Que os dias passem e com eles os bilhetes brancos, pouco importa; o ancião estende os dedos para escolher o número que há de dar a sorte grande amanhã, – ou depois, – um dia, enfim, porque todas as coisas podem falhar neste mundo, menos a sorte grande a quem compra um bilhete com fé.


Naturalismo - século XIX -    Descrever a realidade objetivamente e mostrar a influência do ambiente no homem. Aluízio de Azevedo escreve O Cortiço.
Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua infinidade de portas e janelas alinhadas.

Um acordar alegre e farto de quem dormiu de uma assentada, sete horas de chumbo.
[…].
O rumor crescia, condensando-se; o zunzum de todos os dias acentuava-se; já se não destacavam vozes dispersas, mas um só ruído compacto que enchia todo o cortiço. Começavam a fazer compras na venda; ensarilhavam-se discussões e rezingas; ouviam-se gargalhadas e pragas; já se não falava, gritava-se. Sentia-se naquela fermentação sangüínea, naquela gula viçosa de plantas rasteiras que mergulham os pés vigorosos na lama preta e nutriente da vida, o prazer animal de existir, a triunfante satisfação de respirar sobre a terra.


 Simbolismo – século XIX -1893 a 1922. Os poetas simbolistas eram chamados de "nefelibatas" (que vivem nas nuvens). Obra introdutora:  "Missal" e "Broqueis", ambos de Cruz e Sousa, obras inaugurais do Simbolismo.

Ó Formas alvas, brancas, formas claras            De luares, de neves, de neblinas!...
Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas...                Incensos dos turíbulos das aras...
 Formas do Amor, constelarmente puras,          De Virgens e de santas vaporosas...
Brilhos errantes, mádidas frescuras                    E dolências de lírios e de rosas...
 Indefiníveis músicas supremas,                         Harmonias da Cor e do Perfume...
Horas do Ocaso, trêmulas, extremas,                 Réquiem do Sol que a Dor da luz resume...

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