Aula: 03
Viagem pela Literatura
Em Portugal: Época Medieval – 1100 a 1400
Trovadorismo
– 1189/1198 - Predomínio da poesia. Cantigas de Amor/ Amigo/
Escárnio/ Maldizer - Cantiga de amigo: TEXTO - CANTAR DE AMIGO
À beira do rio fui dançar... Dançando
Me estava entretendo,
Muito a sós Comigo, Quando
na outra margem, como se escondendo Para que eu não visse que me
estava olhando,
Por entre os salgueiros vi o meu amigo.
Vi o meu amigo cujos olhos tristes Certo se
alegravam
De me ver dançar,
Fui largando as roupas que me embaraçavam, Fui soltando as tranças... Olhos que me vistes, Doces olhos tristes, não no ireis contar!
Fui largando as roupas que me embaraçavam, Fui soltando as tranças... Olhos que me vistes, Doces olhos tristes, não no ireis contar!
Que o amor é lume bem eu sei... que logo
Que vi meu
amigo Por
entre os salgueiros, Melhor eu
dançava, já não só comigo, Toda
num quebranto, ao mesmo tempo em fogo,
Melhor eu movia mãos e pés ligeiros.
Época
Clássica - 1500 - séc. XVI – Humanismo e Classicismo –
exalta o antropocentrismo, a razão. Predomínio da prosa. Destaques: Criação do
teatro português por Gil Vicente. Grande obra os Lusíadas de Camões.
As armas e os
barões assinalados Que, da Ocidental praia
Lusitana,
Por mares nunca de antes navegados Passaram ainda além da Taprobana
E em perigos e guerras esforçados Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram Novo Reino, que tanto sublimaram;
Por mares nunca de antes navegados Passaram ainda além da Taprobana
E em perigos e guerras esforçados Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram Novo Reino, que tanto sublimaram;
E também as memórias
gloriosas Daqueles
Reis que foram dilatando
A Fé, o Império, e as terras viciosas De África e de Ásia andaram devastando,
E aqueles que por obras valerosas Se vão da lei da Morte libertando:
Cantando espalharei por toda parte, Se a tanto me ajudar o engenho e arte.
A Fé, o Império, e as terras viciosas De África e de Ásia andaram devastando,
E aqueles que por obras valerosas Se vão da lei da Morte libertando:
Cantando espalharei por toda parte, Se a tanto me ajudar o engenho e arte.
No Brasil: Quinhentismo – séc. XVI - anos
1500 a 1601 –
literatura informativa com Pero Vaz de
Caminha. Literatura Jesuítica com José de Anchieta e Padre Manoel da Nóbrega. - uma
literatura ligada ao Brasil, mas que denota as ambições e as intenções do homem
europeu.
Carta a El-Rei dom Manuel sobre o achamento
do Brasil
Senhor, posto que o capitão-mor desta vossa frota e assim os
outros capitães escrevam a Vossa Alteza a nova do achamento desta vossa terra,
que se ora nesta navegação achou, não deixarei também de dar disso minha
conta.(...)
E assim seguimos nosso caminho por este mar, de longo até
terça-feira d’oitavas de Páscoa, que foram 21 dias d’Abril, que topamos alguns
sinais de terra.(...) E á quarta-feira seguinte, pela manhã, topamos aves, a
que chamam fura-buxos. E neste dia, a horas de véspera, houvemos vista de
terra, isto é, primeiramente d’um grande monte, mui alto e redondo, e d’outras
serras mais baixas a sul dele e de terra chã co grandes arvoredos, ao qual
monte alto o capitão pôs n nome o Monte Pascoal e á terra a Terra de Vera Cruz.
(...)
E dali houvemos vista d’homens, que andavam pela praia, de 7
ou 8, segundo os navios pequenos disseram, por chegarem primeiro. (...) a
feição deles é serem pardos, maneira d’avermelhados, de bons rostos e bons
narizes, bem feitos. Andam nus, sem nenhuma cobertura, nem estimam nenhuma
cousa cobrir nem mostrar suas vergonhas. E estão acerca disso com tanta
inocência como têm em mostrar o rosto.(...) ali andavam entre eles três ou quatro moças, bem moças e bem
gentis, com cabelos muito pretos, compridos, pelas espáduas; e suas vergonhas
tão latas e tão çaradinhas e tão limpas das cabeleiras que de as nós muito bem
olharmos não tínhamos nenhuma vergonha. (...)
E uma daquelas moças era toda tinta, de fundo a cima, daquela
tintura, a qual, certo, era tão bem feita e tão redonda e sua vergonha, que ela
não tinha, tão graciosa, que a muitas mulheres de nossa terra, vendo-lhe tais
feições, fizer vergonha, por não terem a sua como ela. (...)
Barroco - Século XVII a séc. XVIII – anos 1601 a 1768 – conflito teocentrismo e
antropocentrismo. Exagero, conflitos e desequilíbrios.. Destaque: Gregório de
Matos Guerra
A Cristo S.N. Crucificado estando o poeta na última
hora de sua vida
Meu Deus, que estais pendente de
um madeiro, Em cuja lei protesto de viver,
Em cuja santa lei hei de morrer Animoso,
constante, firme e inteiro:
Neste lance, por ser o derradeiro,
Pois vejo a
minha vida anoitecer,
É, meu Jesus, a hora de se ver A brandura de
um Pai, manso Cordeiro
Arcadismo Século XVIII - 1768 a
1836 – bucolismo, objetividade, crítica aos grandes centros.
Quem deixa o trato pastoril amado Pela ingrata, civil correspondência,
Ou desconhece o rosto da
violência, Ou do retiro a paz não tem
provado.
Que bem é ver nos campos
transladado No gênio do pastor, o da
inocência!
E que mal é no trato, e na
aparência. Ver sempre o
cortesão dissimulado!
Romantismo - Século XIX:
1836 a 1881 - sentimentalismo,
nacionalismo, denúncia social. Soneto
Pálida, à luz da lâmpada sombria, Sobre o leito de flores reclinada,
Como a lua por noite embalsamada, Entre as nuvens do amor ela dormia!
Era a virgem do mar! na escuma fria Pela maré das águas embalada!
Era um anjo entre nuvens d' alvorada Que em sonhos se banhava e se esquecia!
Era mais bela! o seio palpitando... Negros olhos as palpebras abrindo...
Formas nuas no leito resvalando...
Pálida, à luz da lâmpada sombria, Sobre o leito de flores reclinada,
Como a lua por noite embalsamada, Entre as nuvens do amor ela dormia!
Era a virgem do mar! na escuma fria Pela maré das águas embalada!
Era um anjo entre nuvens d' alvorada Que em sonhos se banhava e se esquecia!
Era mais bela! o seio palpitando... Negros olhos as palpebras abrindo...
Formas nuas no leito resvalando...
Não te rias de mim, meu anjo lindo! Por ti - as noites eu velei chorando,
Por ti - nos sonhos morrerei sorrindo!
(Álvares de Azevedo)
(Álvares de Azevedo)
Canção do Exílo
Minha
terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá .As aves, que aqui
gorjeiam Não gorjeiam como
lá.
Nosso
céu tem mais estrelas Nossas várzeas têm mais flores, Nossos
bosques têm mais vida
Nossa vida mais
amores.
Em
cismar, sozinho, à noite, Mais prazer encontro eu lá
Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá
Minha
terra tem
primores, Que
tais não encontro eu
cá Em cismar
sozinho, à noite -
Mais
prazer encontro eu
lá Minha
terra tem
palmeiras
Onde canta o Sabiá. (......)
Gonçalves Dias
Navio Negreiro
Era um sonho dantesco!... o
tombadilho, Que das luzernas avermelha o brilho,
Em sangue a se banhar. Tinir de ferros ... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite, Horrendos a dançar...
Negras mulheres, suspendendo às tetas Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães: Outras, moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas, Em ânsia e mágoa vãs!
Em sangue a se banhar. Tinir de ferros ... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite, Horrendos a dançar...
Negras mulheres, suspendendo às tetas Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães: Outras, moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas, Em ânsia e mágoa vãs!
Castro
Alves
Parnasianismo – séc. XIX - pregando a poesia pela poesia e a busca por rimas e formas perfeitas. No Brasil, o grande nome parnasiano é Olavo Bilac, conhecido por suas poesias eróticas e pela letra do Hino à Bandeira.
"Invejo ourives quando escrevo Imito o amor
Com que ele, em ouro, o alto relevo Faz de uma flor.(...)
Com que ele, em ouro, o alto relevo Faz de uma flor.(...)
Por isso, corre por servir-me Sobre o papel
A pena, como em prata firme Corre o cinzel(...)
A pena, como em prata firme Corre o cinzel(...)
Torce, aprimora, alteia, lima A frase; e,
enfim
No verso de ouro engasta a rima Como um rubim (...) Olavo Bilac
No verso de ouro engasta a rima Como um rubim (...) Olavo Bilac
Realismo - século XIX - 1881 a 1893. Em 1882, Machado de Assis publica Memórias Póstumas de Brás Cubas, um dos principais clássicos brasileiros.
Segue um fragmento do conto O
escrivão Coimbra do realista
Machado de Assis.
Aparentemente há poucos espetáculos tão melancólicos como um ancião comprando um bilhete de loteria. Bem considerado, é alegre; essa persistência em crer, quando tudo se ajusta ao descrer, mostra que a pessoa é ainda forte e moça. Que os dias passem e com eles os bilhetes brancos, pouco importa; o ancião estende os dedos para escolher o número que há de dar a sorte grande amanhã, – ou depois, – um dia, enfim, porque todas as coisas podem falhar neste mundo, menos a sorte grande a quem compra um bilhete com fé.
Aparentemente há poucos espetáculos tão melancólicos como um ancião comprando um bilhete de loteria. Bem considerado, é alegre; essa persistência em crer, quando tudo se ajusta ao descrer, mostra que a pessoa é ainda forte e moça. Que os dias passem e com eles os bilhetes brancos, pouco importa; o ancião estende os dedos para escolher o número que há de dar a sorte grande amanhã, – ou depois, – um dia, enfim, porque todas as coisas podem falhar neste mundo, menos a sorte grande a quem compra um bilhete com fé.
Naturalismo -
século XIX - Descrever a realidade objetivamente e
mostrar a influência do ambiente no homem. Aluízio de Azevedo escreve O
Cortiço.
Eram cinco horas da manhã e o cortiço
acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua infinidade de portas e janelas
alinhadas.
Um acordar alegre e farto de quem dormiu de uma assentada, sete horas de chumbo.
[…].
O rumor crescia, condensando-se; o zunzum de todos os dias acentuava-se; já se não destacavam vozes dispersas, mas um só ruído compacto que enchia todo o cortiço. Começavam a fazer compras na venda; ensarilhavam-se discussões e rezingas; ouviam-se gargalhadas e pragas; já se não falava, gritava-se. Sentia-se naquela fermentação sangüínea, naquela gula viçosa de plantas rasteiras que mergulham os pés vigorosos na lama preta e nutriente da vida, o prazer animal de existir, a triunfante satisfação de respirar sobre a terra.
Simbolismo – século XIX -1893 a 1922. Os
poetas simbolistas eram chamados de "nefelibatas" (que vivem nas
nuvens). Obra introdutora: "Missal" e "Broqueis",
ambos de Cruz e Sousa, obras inaugurais do Simbolismo.
Ó Formas alvas, brancas,
formas claras De luares, de
neves, de neblinas!...
Ó Formas vagas, fluidas,
cristalinas... Incensos dos
turíbulos das aras...
Formas do Amor,
constelarmente puras, De Virgens
e de santas vaporosas...
Brilhos errantes, mádidas
frescuras E dolências
de lírios e de rosas...
Indefiníveis
músicas supremas, Harmonias
da Cor e do Perfume...
Horas do Ocaso, trêmulas,
extremas, Réquiem do Sol
que a Dor da luz resume...
Nenhum comentário:
Postar um comentário