Tropa e tropeiros
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62
Em dias
estipulados,
Bruaqueiros
viajavam
Com animais
cargueiros
Que produtos
carregavam,
E em locais
diferentes
Mercadorias
trocavam.
No trajeto a
percorrer,
Todos tinham
que passar
Pela Vila
Beija-Flor,
Onde vinham
pernoitar,
Para no dia
seguinte
A troca aqui
terminar.
Em
Beija-Flor se cruzavam
Caminhos de
todo lado,
E o ponto de
convergência
De pouso era
chamado.
Por perto,
água e pasto
Eram também
encontrados.
Reconhece-se
o valor
Dos
primeiros bruaqueiros,
Sofridos
trabalhadores
No comércio
pioneiros,
Trocadores
de produtos
À Sombra do
Umbuzeiro
O
crescimento da Feira
As pessoas
percebiam
E além de
cereais
Que as roças
produziam,
Vindos da
vizinhança
Produtos
outros se viam.
Com a
criação de gado
E o cultivo
do algodão,
Visando
melhor valor
Pensou-se em
exportação
De pele e
ouro branco
Para outra
região.
De vários
lotes compunham,
As tropas
que conduziam
Os produtos
exportados,
E de lá
também traziam
Mercadorias
diversas
Que aqui não
existiam.
Tropeiros,
vultos anônimos
De merecido
valor,
Pela
participação
Na Vila de
Beija-flor,
Desta história
fazem parte,
A eles,
nosso louvor.
Viajando e Noticiando
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64
Era chamado
Correio,
Aquele que
conduzia
Pacotes,
cartas, dinheiro,
Para outra
freguesia,
E no meado
do século
Isto ainda
acontecia.
Montando um
animal,
Pelo
cabresto puxava
Outro com
uma cangalha,
Que bruacas
sustentava.
E malas com
encomendas
Noutro lugar
entregava.
Com o fio
telegráfico
Que de
Caetité partia,
A estação
telefônica
Necessária
se fazia,
O fio aqui
chegando
Pra Monte
Alto seguia.
Ao entrar o
novo século,
O ano dois
decorria,
E com certa
brevidade
A notícia
transmitia,
A estação
telefônica
Que a Vila
já possuía.
Sete anos se
passaram,
E também foi
instalada
A estação
telegráfica
Que ao ser
inaugurada,
Teve sua
sede própria
À União
doada.
Eram meios
de transporte
Por todo
este sertão,
Equinos bem
equipados
Com sela ou
com silhão,
Conforme o
montador,
Se fosse
homem ou não.
O silhão, só
para mulheres,
Da sela se
diferia,
Porque no
lado direito
Uma proteção
se via.
E só pra o
pé esquerdo
Um estribo
possuía.
Mercadorias
diversas
As tropas
longe levavam.
Pernoitando
aqui e ali,
Carregadas
retornavam.
As coisas
grandes, pesadas,
Carros de
bois
Transportavam.
A Origem dos Nomes
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a 66
Não contaram
os antigos,
Não disse o
pesquisador,
De quem foi
a sugestão,
Quem é mesmo
o autor,
Porque assim
se chamou
O Arraial
Beija-Flor.
Apenas
suposições
Existem pra
explicar:
Lembrando o
Colibri
Adejante no
lugar,
E Flor que
beijava o Santo
Pra o culto
encerrar.
Apelidaram
de Quebra,
Esta terra
onde havia,
Cachaça,
jogo, mulheres,
Brigas e
muita orgia.
Quem
descuidasse do bolso,
Quebrado
daqui saía.
O
pejorativo, quebra,
Na vila não
se ouvia.
Por sugerir
menosprezo
Aquele que o
proferia,
Estava
comprando briga,
Desacato
cometia.
Foi
promovido a Vila
O antigo arraial,
E no momento
lhe dão
Um nome
oficial:
Beija-0flor
vai se chamar,
Diz a Lei
Provincial.
Mas
prevaleceu o hábito
Ou o nome
não pegou.
A troca
oficial
Só se
verificou,
Quando a
Vila jubilosa
Independente
ficou.
Só em alguns
documentos
Novo nome apareceu,
E com a
Agência Postal
Vejam o que
aconteceu:
No carimbo
do Correio
Beija-Flor
se escreveu.
Mais a
trinta e nove anos
A vila assim
se chamou.
Trocou-o por
um sinônimo
Quando se
emancipou,
E em
tupi-guarani
Beija-Flor
continuou.
Beleza e Faceirice
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Poucos
vultos femininos
A
história nos citou:
Bela
que lançou a pedra
Onde
o arraial começou,
E
para nos proteger
Um
patrono nos legou.
Segundo
os mais antigos,
Foi
bela quem construiu
A
sua casa de taipa,
A
primeira que existiu,
No
local onde mais tarde
O
povoado surgiu.
A
desconhecida Bela,
Benquista
no arraial,
Fala-se
ser descendente
E
é suspeita geral,
De
gente que aqui vivia
Da
terra tirando o sal.
P’ra
louvar Santo Antônio
A
quem Bela cultuava,
O
povo da vizinhança
Da
festa participava,
E
no final do festejo
A
folia começava.
O
dia 13 de junho
Bela
comemorava,
E
FlOR, uma bela moça,
Os
cantos iniciava,
Dirigia
as orações
E
a imagem beijava.
Muitos
dos que aqui vinham,
Procuravam
distração,
E
ao terminar o culto,
Muita
voz em profusão
Suplicava:
”Beija, Flor.
Faz
logo a saudação.”
O
apelo repetido
Em
gracejo transformado,
É
uma versão aceita
Para
o nome que foi dado,
Sem
se saber o autor
Do
nome do povoado.
E
em todo mês de junho
A
festa se repetia.
A
frequência aumentava,
O entusiasmo
crescia,
E
passou a ser trezena
A
festa de um só dia.
Treze
dias de festejos
Com
mordomo e violeiro,
Ladainha
e benditos
Ao
Santo casamenteiro,
Ainda
hoje invocado
Como
nosso padroeiro.
O
botequim de cachaça
Foi
ponto de atração,
De
moradores vizinhos
Que
por livre opção,
Mudaram
para mais perto
Da
casa de oração.
Crescia
o arraial
E
desde a formação,
Havia
jogo, cachaça,
Não faltando o violão,
O
pandeiro e a sanfona
Nas
horas de distração.
Na
rua das Aroeiras*
As
BONIFAÇA vivia,
E
o povo do lugar
Muito
bem a conhecia,
Porque
em sua morada
Muita
festa promovia.
Comandava
nas festanças
Uma
dança singular,
Ao
som de gaitas e bumbas,
Caixas,
pandeiros canzás,
E
com muita euforia
Dançava
o “Vai-de-virar.”
Nas
latadas e terreiros
Outra
dança existiu:
A
chamada “Umbigada”,
Que
não mais se repetiu,
Pois
não foi muito aplaudida
E
da tradição fugiu.
“SA
MARIA DAS OVEIA,#
Com
duas filhas morava
Na
rua das Aroeiras,
E
sua vida levava,
Com
uma pequena venda
E
as ovelhas que criava.
Era
a mãe de Fulô,
Jovem
de bela feição,
Alegre,
muito faceira,
De
corpinho violão,
Para
os homens pecado,
Verdadeira
sedução.
Cavalhada e Argolinha
Pág.:
71 a 73
Trezentos
anos após
A
morte do Salvador,
No
deserto da Arábia
Surgiu
outro pregador,
E
a sua profecia
Logo
encontrou seguidor.
Dele
vieram os mouros,
Pagãos
que se espalharam
Por
Portugal e Espanha
E
com os cristãos lutaram,
Pra
impor aquela crença
Que
de Maomé herdaram.
Foram
batalhas ferrenhas
Pra
reprimir o invasor,
E
foi o rei Carlos Magno
Dos
cristãos o defensor,
Pelos
súditos chamado
O
cristianizador.
Pra
reviver as batalhas
Entre
mouros e cristãos,
Criou-se
em Portugal
Em
forma de diversão,
A
cavalhada em torneios,
E
em dramatização.
Por
portugueses trazida
No
tempo colonial,
É
um tema religioso
Que
tem por fundo moral,
A
lição de que o bem
Sempre
supera o mal.
No
final consegue o mouro
A
princesa raptar,
E
renegando a crença
Com
ela casar-se-á.
De
joelhos se batiza,
Bom
cristão vai se tornar.
A
corrida de argolas
Faz
parte da cavalhada,
E
torneio esportivo
Com
prenda a ser conquistada.
Na
vila e nas fazendas
Sempre
era apresentada.
Numa
área espaçosa,
Livre
para cavalgar,
Com
uma lança em riste
Cavaleiros
vão tentar,
Retirar
uma argola
Numa
trave a balançar.
No
jogo de argolinha
O
corcel a ser montado,
Deve
ser com antecedência
Para
o evento adestrado.
Precisa
ser de corrida
E
estar bem arreado.
Calorosos
torcedores
Incentivam
a corrida,
Que
se torna animada
E
fortemente aplaudida.
É
uma competição
Para
muitos divertida.
Enfileirados
se põem
Todos
que vão competir,
E
a um dado sinal,
Vai
cada um de per si,
Tentar
ser o vencedor
Se
a prenda conseguir.
Com
fitinhas coloridas
A
argola enfeitada,
Como
prenda valiosa
Deverá
ser ofertada,
A
esposa ou noiva,
Ou
à jovem namorada.
A Lapinha
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Na
vila, armar presépios,
Passou
a ser tradição,
E
logo no dia treze,
De
arroz, milho, feijão,
Em
pequenos vasilhames
Fazia-se
a plantação.
A
armação de um presépio
Muita
coisa envolvia.
Pois
a sua estrutura
Muito
trabalho exigia,
Para
o formato do morro
Que
com papel se cobria.
De
mulungus, barrigudas,
Os
caules secos pintavam
Com
sumo de folhas verdes
Que
ao carvão misturavam,
E
uma miniatura
De
morro representavam.
Numa
gruta espaçosa,
A
família sagrada,
Fugindo à perseguição
Por
Herodes decretada,
Pelos
poderes Divinos
Estava
ali amparada
A
chamada Estrela Guia,
Ou
Estrela do Oriente,
Que
os Reis Magos guiou,
Andando
em suas frentes
Pairava
à porta da gruta
Majestosa
e reluzente.
Às
vezes sore a Lapinha
Panos
azuis se estendiam,
E
em recortes brilhantes
Diversos
astros luziam.
E
por fios pendurados
Até
anjinhos se viam.
Rústicos
animais
De
barro, feitos a mão,
Recortados
em madeira
E
até, de papelão,
De
vários pontos partiam
P`ra
uma só direção.
De
frente p´ra manjedoura
Todos
deviam estar,
Pois
para lá todos iam
P´ra
o menino visitar.
E
depois do dia seis,
Já
estavam a regressar.
Prá
representar aguadas
Espelhos
eram usados,
E
com plantinhas rasteiras
Os
bordos acobertados,
Davam
perfeita impressão
De
belo e tranquilo lago.
E
a verdadeira água
Também
era encontrada,
Bem
no sopé do morro,
Em
vasilhas contornadas
Por
pedras, ou branca areia,
De
animais apinhada.
E
na noite de Natal
Muito
tarde se dormia,
Pois
só ao cantar do galo,
Na
gruta colocaria
A
imagem pequenina
Do
esperado Messias.
As
visitas aos Presépios
No
Natal iniciavam.
No
dia Santo de Reis
Geralmente
encerravam,
E
depois de um breve culto
As
Lapinhas desmanchavam.
Viva Santos Reis!
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77 a 81
No
início de Dezembro
Os
ensaios começavam
E
as gaitas em dueto
A
cantoria solavam.
De
tenor eram as vozes
Que
pela Vila ecoavam.
De
Natal a Santo Reis,
Era
grande a animação,
E
todo beija-florense
De
nascença folião,
Pra
visita do Reisado
Sempre
dava permissão.
Bumba,
gaita, reco-reco,
Triângulo
e pandeiro,
Entusiasticamente
Exibiam
os reseiros
E
a visita às Lapinhas
Sempre
faziam primeiro.
Ante
as casas se detinham
Para
o canto entoar:
“Senhor
dono desta casa,
Nois
veio lhe visita.
Abre
a porta nobre gente
Deixa
o Santo Reis entrar.”
Era
de porta fechada
Que
a família ouvia,
A
saudação que o grupo
Cantando
lhe dirigia,
E
ao abrir-lhe a porta
A
Bandeira recebia.
Fazendo
o Sinal da cruz
Contritos
se ajoelhavam.
Demonstrando
fé ardente
Em
pensamento oravam,
E
um canto de louvor
Ao
Deus Menino entoavam.
“Ora
viva e reviva,
tornaremos revivar,
Jesus
o filho de Deus
Que
homem fez-se tornar,
Pra
morrer sobre uma cruz
E
a humanidade salvar.
Querido
Jesus menino,
Que
nasceste em Belém,
Nos
louvores que entoamos
Queremos
pedir também
Que
nos dê vida e saúde
Pra
voltar no ano que vem.”
Inesquecível
ficou
A
quadrinha que dizia:
São
José e nossa Senhora
Nasceram
no mesmo dia.
São
José de madrugada,
Maria
a romper o dia.
Para
a dança costumeira
A
turma se organizava,
E
num círculo fechado
Lentamente
caminhava
Ao
acelerar os passos
O
samba logo esquentava.
Permaneciam
tocando
Rodopiando
a dançar
E
no centro um reseiro
Punha-se
a sambar,
E
depois de muita ginga
A
outro dava o lugar.
Após
arrojado o samba
Um
intervalo faziam,
Tempo
em que os residentes
Algo
lhes ofereciam,
E
geralmente bebida
Era
o que mais serviam.
Um
ligeiro bate-papo
Tempo
em que descansavam,
Outra
dança, novos passos,
Desinibidos
mostravam.
Diminuindo
o ritmo,
A
despedida cantavam:
“Até
o ano que vem!
Santo
Reis já vai embora
Pelo
bom acolhimento,
Agradecemos
agora.
Fiquem
com o Deus Menino,
José
e Nossa Senhora.”
Não
se cobrava visita
Que
se fazia a Lapinhas.
Mais
onde não existiam,
O
proprietário tinha
Que
gratificar o Reis,
Que
em sua casa vinha.
O
dinheiro recebido
Servia
pra custear,
A
festa que programavam
Para
os Reis culminar,
Que
bem cedo começava
Indo
até o sol raiar.
Enquanto
o Reis de Bumba
Humildemente
trajava,
O
bloco das pastorinhas
Graciosos
se mostrava,
Com
vestes bem coloridas
E
a todos encantava.
Os
termos das pastorinhas
Tão
bem coreografados,
Eram
mais interessantes
E
também mais animados,
Por
terem as componentes
Mais
jeito para o bailado.
Com
muita vivacidade
Irradiavam
alegria.
Um
pequenino pandeiro
Cada
uma conduzia,
Pois
eles faziam parte
Da
dança e cantoria.
Saias
rodadas, franzidas,
Na
cintura ajustadas,
E
quadris avantajados
Por
anáguas engomadas
Transformavam
as pastoras
Em
bonecas encantadas.
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