segunda-feira, 5 de setembro de 2016



Tropa e tropeiros
Pág.: 61 a 62

Em dias estipulados,
Bruaqueiros viajavam
Com animais cargueiros
Que produtos carregavam,
E em locais diferentes
Mercadorias trocavam.

No trajeto a percorrer,
Todos tinham que passar
Pela Vila Beija-Flor,
Onde vinham pernoitar,
Para no dia seguinte
A troca aqui terminar.

Em Beija-Flor se cruzavam
Caminhos de todo lado,
E o ponto de convergência
De pouso era chamado.
Por perto, água e pasto
Eram também encontrados.

Reconhece-se o valor
Dos primeiros bruaqueiros,
Sofridos trabalhadores
No comércio pioneiros,
Trocadores de produtos
À Sombra do Umbuzeiro

O crescimento da Feira
As pessoas percebiam
E além de cereais
Que as roças produziam,
Vindos da vizinhança
Produtos outros se viam.

Com a criação de gado
E o cultivo do algodão,
Visando melhor valor
Pensou-se em exportação
De pele e ouro branco
Para outra região.

De vários lotes compunham,
As tropas que conduziam
Os produtos exportados,
E de lá também traziam
Mercadorias diversas
Que aqui não existiam.

Tropeiros, vultos anônimos
De merecido valor,
Pela participação
Na Vila de Beija-flor,
Desta história fazem parte,
A eles, nosso louvor.

Viajando e Noticiando
Pág.: 63 a 64

Era chamado Correio,
Aquele que conduzia
Pacotes, cartas, dinheiro,
Para outra freguesia,
E no meado do século
Isto ainda acontecia.

Montando um animal,
Pelo cabresto puxava
Outro com uma cangalha,
Que bruacas sustentava.
E malas com encomendas
Noutro lugar entregava.

Com o fio telegráfico
Que de Caetité partia,
A estação telefônica
Necessária se fazia,
O fio aqui chegando
Pra Monte Alto seguia.

Ao entrar o novo século,
O ano dois decorria,
E com certa brevidade
A notícia transmitia,
A estação telefônica
Que a Vila já possuía.

Sete anos se passaram,
E também foi instalada
A estação telegráfica
Que ao ser inaugurada,
Teve sua sede própria
À União doada.

Eram meios de transporte
Por todo este sertão,
Equinos bem equipados
Com sela ou com silhão,
Conforme o montador,
Se fosse homem ou não.

O silhão, só para mulheres,
Da sela se diferia,
Porque no lado direito
Uma proteção se via.
E só pra o pé esquerdo
Um estribo possuía.

Mercadorias diversas
As tropas longe levavam.
Pernoitando aqui e ali,
Carregadas retornavam.
As coisas grandes, pesadas,
Carros de bois
Transportavam.

A Origem dos Nomes
Pág.: 65 a   66

Não contaram os antigos,
Não disse o pesquisador,
De quem foi a sugestão,
Quem é mesmo o autor,
Porque assim se chamou
O Arraial Beija-Flor.

Apenas suposições
Existem pra explicar:
Lembrando o Colibri
Adejante no lugar,
E Flor que beijava o Santo
Pra o culto encerrar.

Apelidaram de Quebra,
Esta terra onde havia,
Cachaça, jogo, mulheres,
Brigas e muita orgia.
Quem descuidasse do bolso,
Quebrado daqui saía.

O pejorativo, quebra,
Na vila não se ouvia.
Por sugerir menosprezo
Aquele que o proferia,
Estava comprando briga,
Desacato cometia.

Foi promovido a Vila
O antigo arraial,
E no momento lhe dão
Um nome oficial:
Beija-0flor vai  se chamar,
Diz a Lei Provincial.

Mas prevaleceu o hábito
Ou o nome não pegou.
A troca oficial
Só se verificou,
Quando a Vila jubilosa
Independente ficou.

Só em alguns documentos
Novo nome apareceu,
E com a Agência Postal
Vejam o que aconteceu:
No carimbo do Correio
Beija-Flor se escreveu.

Mais a trinta e nove anos
A vila assim se chamou.
Trocou-o por um sinônimo
Quando se emancipou,
E em tupi-guarani
Beija-Flor continuou.

Beleza e Faceirice
 Pág.: 67 /70
Poucos vultos femininos
A história nos citou:
Bela que lançou a pedra
Onde o arraial começou,
E para nos proteger
Um patrono nos legou.

Segundo os mais antigos,
Foi bela quem construiu
A sua casa de taipa,
A primeira que existiu,
No local onde mais tarde
O povoado surgiu.

A desconhecida Bela,
Benquista no arraial,
Fala-se ser descendente
E é suspeita geral,
De gente que aqui vivia
Da terra tirando o sal.

P’ra louvar Santo Antônio
A quem Bela cultuava,
O povo da vizinhança
Da festa participava,
E no final do festejo
A folia começava.
O dia 13 de junho
Bela comemorava,
E FlOR, uma bela moça,
Os cantos iniciava,
Dirigia as orações
E a imagem beijava.
Muitos dos que aqui vinham,
Procuravam distração,
E ao terminar o culto,
Muita voz em profusão
Suplicava: ”Beija, Flor.
Faz logo a saudação.”

O apelo repetido
Em gracejo transformado,
É uma versão aceita
Para o nome que foi dado,
Sem se saber o autor
Do nome do povoado.

E em todo mês de junho
A festa se repetia.
A frequência aumentava,
O entusiasmo crescia,
E passou a ser trezena
A festa de um só dia.
Treze dias de festejos
Com mordomo e violeiro,
Ladainha e benditos
Ao Santo casamenteiro,
Ainda hoje invocado
Como nosso padroeiro.

O botequim de cachaça
Foi ponto de atração,
De moradores vizinhos
Que por livre opção,
Mudaram para mais perto
Da casa de oração.

Crescia o arraial
E desde a formação,
Havia jogo, cachaça,
Não  faltando o violão,
O pandeiro e a sanfona
Nas horas de distração.

Na rua das Aroeiras*
As BONIFAÇA vivia,
E o povo do lugar
Muito bem a conhecia,
Porque em sua morada
Muita festa promovia.

Comandava nas festanças
Uma dança singular,
Ao som de gaitas e bumbas,
Caixas, pandeiros canzás,
E com muita euforia
Dançava o “Vai-de-virar.”

Nas latadas e terreiros
Outra dança existiu:
A chamada “Umbigada”,
Que não mais se repetiu,
Pois não foi muito aplaudida
E da tradição fugiu.

“SA MARIA DAS OVEIA,#      
Com duas filhas morava
Na rua das Aroeiras,
E sua vida levava,
Com uma pequena venda
E as ovelhas que criava.

Era a mãe de Fulô,
Jovem de bela feição,
Alegre, muito faceira,
De corpinho violão,
Para os homens pecado,
Verdadeira sedução.



Cavalhada e Argolinha
Pág.: 71 a 73

Trezentos anos após
A morte do Salvador,
No deserto da Arábia
Surgiu outro pregador,
E a sua profecia
Logo encontrou seguidor.

Dele vieram os mouros,
Pagãos que se espalharam
Por Portugal e Espanha
E com os cristãos lutaram,
Pra impor aquela crença
Que de Maomé herdaram.

Foram batalhas ferrenhas
Pra reprimir o invasor,
E foi o rei Carlos Magno
Dos cristãos o defensor,
Pelos súditos chamado
O cristianizador.

Pra reviver as batalhas
Entre mouros e cristãos,
Criou-se em Portugal
Em forma de diversão,
A cavalhada em torneios,
E em dramatização.

Por portugueses trazida
No tempo colonial,
É um tema religioso
Que tem por fundo moral,
A lição de que o bem
Sempre supera o mal.

No final consegue o mouro
A princesa raptar,
E renegando a crença
Com ela casar-se-á.
De joelhos se batiza,
Bom cristão vai se tornar.

A corrida de argolas
Faz parte da cavalhada,
E torneio esportivo
Com prenda a ser conquistada.
Na vila e nas fazendas
Sempre era apresentada.

Numa área espaçosa,
Livre para cavalgar,
Com uma lança em riste
Cavaleiros vão tentar,
Retirar uma argola
Numa trave a balançar.

No jogo de argolinha
O corcel a ser montado,
Deve ser com antecedência
Para o evento adestrado.
Precisa ser de corrida
E estar bem arreado.

Calorosos torcedores
Incentivam a corrida,
Que se torna animada
E fortemente aplaudida.
É uma competição
Para muitos divertida.

Enfileirados se põem
Todos que vão competir,
E a um dado sinal,
Vai cada um de per si,
Tentar ser o vencedor
Se a prenda conseguir.

Com fitinhas coloridas
A argola enfeitada,
Como prenda valiosa
Deverá ser ofertada,
A esposa ou noiva,
Ou à jovem namorada.


A Lapinha
 Pág.: 74  a 76

Na vila, armar presépios,
Passou a ser tradição,
E logo no dia treze,
De arroz, milho, feijão,
Em pequenos vasilhames
Fazia-se a plantação.

A armação de um presépio
Muita coisa envolvia.
Pois a sua estrutura
Muito trabalho exigia,
Para o formato do morro
Que com papel se cobria.

De mulungus, barrigudas,
Os caules secos pintavam
Com sumo de folhas verdes
Que ao carvão misturavam,
E uma miniatura
De morro representavam.

Numa gruta espaçosa,
A família sagrada,
Fugindo  à perseguição
Por Herodes decretada,
Pelos poderes Divinos
Estava ali amparada

A chamada Estrela Guia,
Ou Estrela do Oriente,
Que os Reis Magos guiou,
Andando em suas frentes
Pairava à porta da gruta
Majestosa e reluzente.

Às vezes sore a Lapinha
Panos azuis se estendiam,
E em recortes brilhantes
Diversos astros luziam.
E por fios pendurados
Até anjinhos se viam.

Rústicos animais
De barro, feitos a mão,
Recortados em madeira
E até, de papelão,
De vários pontos partiam
P`ra uma só direção.

De frente p´ra manjedoura
Todos deviam estar,
Pois para lá todos iam
P´ra o menino visitar.
E depois do dia seis,
Já estavam a regressar.

Prá representar aguadas
Espelhos eram usados,
E com plantinhas rasteiras
Os bordos acobertados,
Davam perfeita impressão
De belo e tranquilo lago.

E a verdadeira água
Também era encontrada,
Bem no sopé do morro,
Em vasilhas contornadas
Por pedras, ou branca areia,
De animais apinhada.

E na noite de Natal
Muito tarde se dormia,
Pois só ao cantar do galo,
Na gruta colocaria
A imagem pequenina
Do esperado Messias.

As visitas aos Presépios
No Natal iniciavam.
No dia Santo de Reis
Geralmente encerravam,
E depois de um breve culto
As Lapinhas desmanchavam.

Viva Santos Reis!
Pág.: 77 a 81

No início de Dezembro
Os ensaios começavam
E as gaitas em dueto
A cantoria solavam.
De tenor eram as vozes
Que pela Vila ecoavam.

De Natal a Santo Reis,
Era grande a animação,
E todo beija-florense
De nascença folião,
Pra visita do Reisado
Sempre dava permissão.

Bumba, gaita, reco-reco,
Triângulo e pandeiro,
Entusiasticamente
Exibiam os reseiros
E a visita às Lapinhas
Sempre faziam primeiro.

Ante as casas se detinham
Para o canto entoar:
“Senhor dono desta casa,
Nois veio lhe visita.
Abre a porta nobre gente
Deixa o Santo Reis entrar.”

Era de porta fechada
Que a família ouvia,
A saudação que o grupo
Cantando lhe dirigia,
E ao abrir-lhe a porta
A Bandeira recebia.

Fazendo o Sinal da cruz
Contritos se ajoelhavam.
Demonstrando fé ardente
Em pensamento oravam,
E um canto de louvor
Ao Deus Menino entoavam.

“Ora viva e reviva,
tornaremos revivar,

Jesus o filho de Deus
Que homem fez-se tornar,
Pra morrer sobre uma cruz
E a humanidade salvar.

Querido Jesus menino,
Que nasceste em Belém,
Nos louvores que entoamos
Queremos pedir também
Que nos dê vida e saúde
Pra voltar  no ano que vem.”

Inesquecível ficou
A quadrinha que dizia:
São José e nossa Senhora
Nasceram no mesmo dia.
São José de madrugada,
Maria a romper o dia.

Para a dança costumeira
A turma se organizava,
E num círculo fechado
Lentamente caminhava
Ao acelerar os passos
O samba logo esquentava.

Permaneciam tocando
Rodopiando a dançar
E no centro um reseiro
Punha-se a sambar,
E depois de muita ginga
A outro dava o lugar.

Após arrojado o samba
Um intervalo faziam,
Tempo em que os residentes
Algo lhes ofereciam,
E geralmente bebida
Era o que mais serviam.

Um ligeiro bate-papo
Tempo em que descansavam,
Outra dança, novos passos,
Desinibidos mostravam.
Diminuindo o ritmo,
A despedida cantavam:

“Até o ano que vem!
Santo Reis já vai embora
Pelo bom acolhimento,
Agradecemos agora.
Fiquem com o Deus Menino,
José e Nossa Senhora.”

Não se cobrava visita
Que se fazia a Lapinhas.
Mais onde não existiam,
O proprietário tinha
Que gratificar o Reis,
Que em sua casa vinha.

O dinheiro recebido
Servia pra custear,
A festa que programavam
Para os Reis culminar,
Que bem cedo começava
Indo até o sol raiar.
Enquanto o Reis de Bumba
Humildemente trajava,
O bloco das pastorinhas
Graciosos se mostrava,
Com vestes bem coloridas
E a todos encantava.

Os termos das pastorinhas
Tão bem coreografados,
Eram mais interessantes
E também mais animados,
Por terem as componentes
Mais jeito para o bailado.

Com muita vivacidade
Irradiavam alegria.
Um pequenino pandeiro
Cada uma conduzia,
Pois eles faziam parte
Da dança e cantoria.

Saias rodadas, franzidas,
Na cintura ajustadas,
E quadris avantajados
Por anáguas engomadas
Transformavam as pastoras
Em bonecas encantadas.


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