segunda-feira, 5 de setembro de 2016




As Rendeiras da Vila

Pág. 96

O trabalho de rendeira,
Há muito foi esquecido
E na Vila Beija-Flor,
Sempre foi o preferido,
Por poupar cansaço físico
E em casa ser exercido.

Pra um trabalho perfeito,
A rendeira tem que ser
Paciente e atenta,
O desenho entender,
Possuir boa visão
Pra os furinhos perceber.

Bico estreito ou largo,
Renda e aplicação,
Em branco ou com matizes,
De linha fina ou não,
Pra confecção de roupas
Tinham grande aceitação.

As anônimas artistas
Tão pouco mencionadas,
Muito contribuíram
Pra arte ser divulgada,
Com trocadilho de bilros
E as rendas de almofadas.

As Parteiras    Pág.: 97

As esquecidas Mães Velhas
Que os partos assistiam,
Sempre que eram chamadas
Prontamente atendiam,
Enfrentando sol e chuva
Pra ajudar os que nasciam.

A imagem da parteira
Todos deviam reter,
Por ela a primeira
Que todos vêem ao nascer,
E que depois de crescidos
Ninguém mais procura ver.

Nunca se fez referência,
Ninguém homenageou
A abnegada mãe-velha
Que ricos e pobres pegou,
Que cortou tantos umbigos
De mães e filhos cuidou.

Parteiras de Beija-Flor,
Caídas no esquecimento,
Pela contribuição
Dada ao povoamento,
Mesmo no anonimato
Homenagens eu lhes rendo.

O Bálsamo
Pág.: 98

Junto à cama ou rede
Onde alguém agonizava,
Fazia-se oração
E bendito entoava.
Eram pedidos aos céus
Por alguém que expirava.

Entre muitos outros cantos,
Havia um que dizia:
Evem a barra do dia,
Evem José e Maria.
Evem um anjo do céu,
Ele será tua guia.

No momento, o guardião,
Não ficava esquecido:
“O teu anjo de guarda,
Que sempre andou contigo,
Vai ajuda tu vencê
Batalha dos inimigo.”

Os cantos ofereciam,
A quem ao céu nos conduz:
“Ofereço este bendito
Pro Senhô que tá na cruz,
Que te leva até a grória
]para sempre amém Jesus.”

Incelença
Pág.: 99 a 100

Na vila era costume
A incelença cantar,
A qualquer um falecido
Para que ao despertar,
Arrepende-se das culpas
Para Deus lhe perdoar.

E durante a quaresma,
Em determinados dias,
Em latas horas da noite
A incelença se ouvia,
Quando a encomendação
De finados se fazia,

Em tais recomendações
Os participantes iam,
Com o vestuário branco
Que até aos pés desciam,
E tinham sobre a cabeça
Lençóis que o corpo cobriam

Apenas nariz e olhos
Neles se podia ver,
E ninguém era capaz
De um só reconhecer.
Aquelas figuras tétricas
Não transmitam prazer.

O portão do cemitério,
Cruzeiros, encruzilhada,
Como a porta de igreja
Eram   locais de parada,
Onde as encomendações
Pelo grupo eram cantadas.

Um dos encomendadores
Um cacete conduzia,
E para pedir silêncio
Nas portas ele batia,
E também era defesa
Contra qualquer cão-vigia.

E nas caladas da noite
A incelença cantavam,
E sons característicos
Da matraca ressoavam.
As crianças e mofinos
Com eles amedrontavam.

Nas quartas e sextas-feiras,
As almas encomendavam.
Doze vezes repetidas
O mesmo canto entoavam,
E na sexta-feira santa
O ritual terminavam.


Os Benzedores
Pág.: 101 a 105

Quase analfabetos,
Eram os Benzedores,
Que descobriam segredos
E aliviavam dores,
usando seus patuás,
Raminhos verdes e flores

De preferência os ramos
Usados para benzer,
Deviam ser de arruda,
pois diziam ter poder
De afastar os maus fluídos
Que azar podem trazer.

Curavam as enxaquecas,
A forte dor de ouvido,
Colocavam no lugar
O que estava retorcido.
Rezavam carnes quebradas
E também osso rendido.

Como não havia médico
Curavam qualquer mazela:
Cicatrizavam feridas.
levantavam espinhela
Desfaziam inflamações
E o rubor da erispipela.

Principalmente crianças
Benziam para retirar
o quebranto que pessoas
Costumavam lhes botar.
Sendo mais forte o de mãe
Capaz mesmo de matar.

Plantas e animaizinhos
Também tinham que benzer
De quebranto  e olho grande
De alguém que sem querer
Tem nos olhos ou nas mãos
Sobrenatural poder.

Rezavam contra engasgo
E para ínguas cortar.
Desvaneciam tumores
E usavam patuás
Para que parturientes
Conseguissem despachar.

A fé remove montanhas
É um dizer popular
Que há muito se conhece
E para isso provar
De um patuá milagroso
Em rimas vou lhes falar:

Contam que certa vez,
O dia já terminava,
O sol já se escondia
O cristão viajava,
Montado um animal
Que cansado já estava.

Ao avistar uma luz,
Da  casa se aproximou
E co, palmas repetidas
Na porta, ele chamou,
“Oi de casa! de casa! ! sou de paz!”
E  nestes termos  falou:
- Nois tamomuito cansado.
Eu e o meu alazão
Viajemo todo o dia
Tomano esse solão.
Vosmecê me dá umpouso
Nem qui seja no garpão?

- Infilizmente não posso,
E ocê vai intendê,
To  num apuro danado
E num sei o que faze.
Há  treis dia a muié.
Ispera o fio nascer.

- A parteira não ajuda?
- Ajuda sim, já tentô.
Já deu uma beberage,
Aio com sebo passô.
Tento^virá a crianca
E a muié só piorô.

- Mais isso logo resorve
Ocê pode me trazê
Um papê e a caneta
Pra mode eu escreve,
A oração do partero
Que faiz quarqué um nascê?

Às pressas o pobre homem
Caneta e papel pegou
E Chamando pela sogra
Em voz alta ordenou:
“Vê se tem  café coado,
Trais pro moço que chegou

Pega o cavalo fio.
Tira a sela primeiro,
Bota ele pra bebê,
E Sorta lá no mangueiro
Que o amigo vai fazer
A oração do partero”.


De posse do que pediu
O Viajante escreveu,
A Prometida oração
E num paninho a coseu.
A mulher com fé ardente,
Com o patuá se benzeu.

Pra todos, aquele homem
Foi enviado por Deus
E tão crédulos estavam
Que o pai compadeceu,
E  num rápido momento
O Pequerrucho nasceu.

E o santo patuá
De casa  em casa, ia.
E por estar bem sujo,
Resolveram certo dia
Trocar aquele paninho
Do escrito que dizia:

“Um dia ocê vai ri
Do que diz esta oração.
Tendo comida pra mim
E  pasto pra o alazão
Não importo nem um poco
Se sua mulher pare ou não.”


Caminhos Opostos

Na demarcação das  terras
Sem limites definidos,
Surgiam sérios conflitos,
Que eram submetidos
A arbitragem de homens,
Do assunto entendidos.

Faziam a vistoria
Da área em questão,
Liam os documentos
Com a devida atenção,
E ouvindo testemunhas
Tomavam a decisão.

Em Carnaíbas de Fora
Um fato triste se deu:
Ao demarcar um limite
Alguém não compareceu,
E sem aquela presença
A questão se resolveu.

Decidido o impasse
A contento se abraçaram,
Mas a caminho da Vila
Ex-amigos se encontraram,
E sem nenhum cumprimento
Nem mesmo se entreolharam.

O coronel Bezerra
Só meia légua andou,
Quando João Marcelino
Com dois capangas passou,
E em direção oposta
Cada qual continuou.

Vinha Gustavo Bezerra
Com mais quatro cavaleiros,
E depois de se cruzarem
Com Joãozinho Coureiro,
Retornarem ao local
Sugeriu um companheiro.

Dando de rédeas pra trás
A galope cavalgaram,
No encalço de Coureiro
E quando se defrontaram,
Poucas palavras disseram
E um duelo travaram.

De revólveres em  punho
Salataram dos animais,
E terminadas as balas
Sacaram de seus punhais.
Por terra caiu Gustavo
Lutar não podia mais.

Só houve intervenção
Dos presentes aturdidos,
Quando aqueles contendores
Já mortalmente feridos,
Não se continham de pé
Com os golpes desferidos.

Entre Gustavo e coureiro,
Richa já existia.
Pois daquela decisão
O Coureiro não sabia,
E a terra em questão
A eles não pertencia.

À sede do Cubículo
Alguém teve que voltar,
Pra ao coronel Chiquinho
Ajuda solicitar,
E ele com duas redes
Socorro veio prestar.

Carregado numa rede
Pelos dois capangas seus,
Gustavo deixou o lajedo
Onde a luta se deu,
E sob uma aroeira
Suspiros e faleceu.

Também com risco de vida
Do local se afastou,
O Joãozinho Coureiro
Que vivo em casa chegou,
Mas as forças lhe fugiam
E sem demora expirou.

Uma acomodação
Facilmente resolvida,
Foi o pretexto da luta
Sem razão esclarecida,
Que tornou velhos amigos
Mutuamente homicidas.
Na política local,
Bezerra foi atuante.
Da vida do arraial
Foi vulto participante,
O maior dos fazendeiros,
E grande comerciante.

A morte inesperada
Do  líder tão dedicado,
Deixou o grupo político
Acéfalo e abalado,
Mas logo com muito acerto
Foi outro chefe indicado.

Beija-Flor é livre e livre voa

O respeitado Gustavo
Teve como sucessor,
O coronel Cajayba,
Homem de grande valor,
Que muito contribuiu
Pra libertar Beija-Flor.

O novo líder político
Ao assumir a chefia,
As ordens de Monte Alto
Nem sempre ele cumpria,
E com tática política
Sabiamente agia.

Antes da emancipação
Da vila se separou,
A Lagoa da Espera
Que Distrito se tornou,
E com área reduzida
Beija-Flor se libertou.

Uma Lei Estadual
O município criava
Em quatorze de agosto
Beija-Flor emancipava.
Em primeiro de Janeiro,
O Intendente empossava.

Em pleno século vinte
A Vila se promoveu.
Tornou-se independente
E quando isto se deu,
Foi em tupi-gurarani
O nome que recebeu.

Beija-Flor é Guanambi,
Assim o índio ensinou.
O topônimo atual
Em sentido não mudou,
Apenas sua agrafia
As letras todas trocou.

A Lei um três, meia, quatro,
Que do Estado emanou,
Não relatou os limites,
Apenas os conservou.
E sem retificação
A área continuou.

Uma casinha de taipa;
Umpequeno povoado;
Um arraial, uma vila;
 O município criado;
E Balbino Gabriel
Intendente empossado.

O primeiro governante
Comedido e previdente,
Ao assumir as funções
Como chefe intendente,
Decretou o orçamento
Para o exercício vigente.

Em doze contos de réis
A receita ele orçou,
E em igual importância
A despesa fixou,
E ao criar dois Distritos
Segunda Lei assinou.

Sem  nenhuma observância
Do que por lei é devido,
Com mais ou menos dez casas,
Sem mínimos requisitos,
Em Mucambo instalou-se
O segundo dos Distritos.

Esta Lei número dois
Os limites remarcou
E de  outros municípios
Parte de terras tirou,
E Lagoa da Espera
A Guanambi retornou.

Dia oito de janeiro
Foi a Lei sancionada,
Sendo sua existência
Em edital divulgada,
Quando foi pelo Estado
A mesma Lei confirmada.

Por mais de um ano e meio,
Em sigilo foi guardado
O conteúdo da Leia
Em vinte e dois publicado,
Através de editais
Em locais afixados.

A comunhão de ideias
Teve pouca duração,
E alguns já se opunham
A administração,
Tornaram-se adversários
E fazendo oposição.

O grupo antes coeso
Agora se dividiu,
E Balbino Cajayba
Inimigos contraiu.
Desgostoso com os fatos,
Do mandato desistiu.

O prestígio não perdeu
E isto ficou provado,
Por ter sido seu sobrinho
Candidato indicado,
João Exalto Araújo,
Em seu lugar empossado.

Por berço teve queimadas;
Na Capital foi morar;
Residia em Caetité
Quando resolveu mudar;
Na vila de Beija-Flor
Resolveu se instalar.

Na política local
Balbino se filiou,
Com a morte de Gustavo
Grande líder se tornou,
Foi o primeiro intendente
Da vila que emancipou.

O QUE OUTROS PESQUISARAM
E ALGO QUE OUVI CONTAR,
EM VERSOS EU TRANSCREVI,
E ESTOU A RECONTAR.
MANTIVE FIDELIDADE,
PROCUREI NÃO DETURPAR.

Guanambi, uma terra, vários nomes

Foi Beija-Flor o teu nome primeiro.
Como prova de fé e devoção,
Foste doada ao Santo Português
A quem teu povo invoca em oração,
E que de ti o protetor se fez.

Uma aversão diz que este teu nome,
Lembra alguém que tudo liderava
E iniciava as preces ao Senhor.
Que os canto ssacros sempre entoava,
E a quem diziam: “Vem beijá, Fulô.”

Muitos daqueles que aqui viveram
Outra versão tiveram pra contar:
Atribuíram o nome ao Colibri
Que sobre flores vinha adejar,
Presságio certo de um feliz porvir.

Outro topônimo tu recebeste
Quando deixaste de ser arraial.
O Decreto-Lei que te promoveu,
Também  te deu um nome oficial,
Mas a mudança não aconteceu.

A Lei ditou o nome Bela Flor,
E da origem, a suposição,
É que quiseram homenagear
Bela com a casa de Oração,
E Flor, a bela moça do lugar.

Tu, Beija-Flor, ao te emancipares,
Tiveste o nome outra vez mudado.
Foram busca-lo na língua tupi,
De igual sentido, porém deturpado.
Beija-Flor, chamaram-te Guanambi.

Nossos vizinhos te apelidaram Quebra,
Por ser frequente aqui a expressão:
“Se não der certo, o pau vai quebrar.”
Também porque, muitos que aqui vinham,
Tudo perdiam no jogo de azar.

Também tiveste um nome afetivo
E que a muitos traz recordação,
Pois foi cantando para não chorar,
Foi despedindo-se com emoção,
Que te entoaram: “Adeus Parurá!”

Quando tiveste luz e água farta,
Muito cresceste, tudo melhorou,
Todo setor entrou em reação,
E um cognome alguém te legou:
“Guanambi, “Capital do algodão.”

Fulguras hoje na Constelação
Dos grandes centros deste nosso Estado.
Imitaste o sutil Colibri
Que veloz voa para todos os lados,
Terra querida, minha GUANAMBI.

Canção a Guanambi

De um pequenino ser, o nome herdaste.
Por muito tempo foste Beija-Flor.
Dos que aqui nascem és a terra amada.
Aos imigrantes dás guarida e amor.

Teu pôr-do-sol encanta e nos deslumbra,
E ao poeta traz inspiração.
Calor humano aquece tua gente,
Que crê em Deus e vive em união.

REFRAÃO:
TEU SOLO FÉRTIL NOS CARANTE O PÃO.
TEU CLIMA AMENO, SAÚDE NOS DÁ.
E O MILAAGROSO ANTÔNIO PADROEIRO,
ESTENDE AS MÃOS A NOS ABENÇOAR.

Em tempos idos, oh! Quanta saudade!
Quão animada a festa de São João”
A marujada e os blocos de Reis,
Faziam parte de tua tradição.

Inesquecíveis são as serenatas,
Que se ouvia em noites de luar!
Quando mãos hábeis dedilhavam acordes,
E um seresteiro punha-se a cantar.

REFRÃO
Cortava os ares, o som do berrante,
Se uma boiada estava a passar.
Densa poeira cobria o estradão,
E outros vaqueiros cantavam a boiar.

Canonizada não é Leocádia,
Mas faz milagres e aquele que crê,
Em sua cova deposita flores,
Preces e velas vão lhe oferecer.

REFRÃO

Neste baixio do sertão baiano,
Tu te destacas, és grande cidade.
Porque teu povo é laborioso,
E o teu progresso é realidade.

Eu te bendigo terra mui querida!
E o que desejo minha Guanambi,
É  que o amor aqui sempre perdure,
E eu nunca venha me ausentar de ti.

Beija...Beija...beija-Flor

Em plena selva um dia surgiste,
E do teu nome não se sabe o autor,
Tão pequenina foste no passado
Que apelidaram-te de Beija-Flor
Feliz presságio sugeriu teu nome
Pois tu és hoje cidade primor.

Do Intendente as leis emanadas,
Nossos anseios vinham coibir
De mãos atadas e passos tolhidos
Sem liberdade de pensar e agir
Teu povo altivo e forte rebelou-se
E as algemas conseguiu partir.

Na feliz data da Independência
Por bem acharam teu nome mudar
E um sinônimo de Beija-Flor
Noutro idioma foram encontrar.
Guanambi é o mesmo colibri,
E a cidade assim fez-se chamar.

Há oitenta anos te emancipaste
E o quinto abraço irás receber.
Mais caloroso, ceio de afeto,
Simbolizando o nosso bem-querer
Com o desejo de que muito cresças
E aqui possamos felizes viver.


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