As Rendeiras da Vila
Pág. 96
O trabalho
de rendeira,
Há muito foi
esquecido
E na Vila
Beija-Flor,
Sempre foi o
preferido,
Por poupar
cansaço físico
E em casa
ser exercido.
Pra um
trabalho perfeito,
A rendeira
tem que ser
Paciente e
atenta,
O desenho
entender,
Possuir boa
visão
Pra os
furinhos perceber.
Bico
estreito ou largo,
Renda e
aplicação,
Em branco ou
com matizes,
De linha
fina ou não,
Pra
confecção de roupas
Tinham
grande aceitação.
As anônimas
artistas
Tão pouco
mencionadas,
Muito
contribuíram
Pra arte ser
divulgada,
Com
trocadilho de bilros
E as rendas
de almofadas.
As Parteiras Pág.: 97
As
esquecidas Mães Velhas
Que os
partos assistiam,
Sempre que
eram chamadas
Prontamente
atendiam,
Enfrentando
sol e chuva
Pra ajudar
os que nasciam.
A imagem da
parteira
Todos deviam
reter,
Por ela a
primeira
Que todos
vêem ao nascer,
E que depois
de crescidos
Ninguém mais
procura ver.
Nunca se fez
referência,
Ninguém
homenageou
A abnegada
mãe-velha
Que ricos e
pobres pegou,
Que cortou
tantos umbigos
De mães e
filhos cuidou.
Parteiras de
Beija-Flor,
Caídas no
esquecimento,
Pela
contribuição
Dada ao
povoamento,
Mesmo no
anonimato
Homenagens
eu lhes rendo.
O Bálsamo
Pág.: 98
Junto à cama
ou rede
Onde alguém
agonizava,
Fazia-se
oração
E bendito
entoava.
Eram pedidos
aos céus
Por alguém
que expirava.
Entre muitos
outros cantos,
Havia um que
dizia:
Evem a barra
do dia,
Evem José e
Maria.
Evem um anjo
do céu,
Ele será tua
guia.
No momento,
o guardião,
Não ficava
esquecido:
“O teu anjo
de guarda,
Que sempre
andou contigo,
Vai ajuda tu
vencê
Batalha dos
inimigo.”
Os cantos
ofereciam,
A quem ao
céu nos conduz:
“Ofereço
este bendito
Pro Senhô
que tá na cruz,
Que te leva
até a grória
]para sempre
amém Jesus.”
Incelença
Pág.: 99 a
100
Na vila era
costume
A incelença
cantar,
A qualquer
um falecido
Para que ao
despertar,
Arrepende-se
das culpas
Para Deus
lhe perdoar.
E durante a
quaresma,
Em
determinados dias,
Em latas
horas da noite
A incelença
se ouvia,
Quando a
encomendação
De finados
se fazia,
Em tais
recomendações
Os participantes
iam,
Com o
vestuário branco
Que até aos
pés desciam,
E tinham
sobre a cabeça
Lençóis que
o corpo cobriam
Apenas nariz
e olhos
Neles se
podia ver,
E ninguém
era capaz
De um só
reconhecer.
Aquelas
figuras tétricas
Não
transmitam prazer.
O portão do
cemitério,
Cruzeiros,
encruzilhada,
Como a porta
de igreja
Eram locais de parada,
Onde as
encomendações
Pelo grupo
eram cantadas.
Um dos
encomendadores
Um cacete
conduzia,
E para pedir
silêncio
Nas portas
ele batia,
E também era
defesa
Contra qualquer
cão-vigia.
E nas
caladas da noite
A incelença
cantavam,
E sons
característicos
Da matraca
ressoavam.
As crianças
e mofinos
Com eles
amedrontavam.
Nas quartas
e sextas-feiras,
As almas
encomendavam.
Doze vezes
repetidas
O mesmo
canto entoavam,
E na
sexta-feira santa
O ritual
terminavam.
Os Benzedores
Pág.: 101 a
105
Quase analfabetos,
Eram os Benzedores,
Que descobriam segredos
E aliviavam dores,
usando seus patuás,
Raminhos verdes e flores
De preferência os ramos
Usados para benzer,
Deviam ser de arruda,
pois diziam ter poder
De afastar os maus fluídos
Que azar podem trazer.
Curavam as enxaquecas,
A forte dor de ouvido,
Colocavam no lugar
O que estava retorcido.
Rezavam carnes quebradas
E também osso rendido.
Como não havia médico
Curavam qualquer mazela:
Cicatrizavam feridas.
levantavam espinhela
levantavam espinhela
Desfaziam inflamações
E o rubor da erispipela.
Principalmente crianças
Benziam para retirar
o quebranto que pessoas
Costumavam lhes botar.
Sendo mais forte o de mãe
Capaz mesmo de matar.
Plantas e animaizinhos
Também tinham que benzer
De quebranto e olho grande
De alguém que sem querer
Tem nos olhos ou nas mãos
Sobrenatural poder.
Rezavam contra engasgo
E para ínguas cortar.
Desvaneciam tumores
E usavam patuás
Para que parturientes
Conseguissem despachar.
A fé remove montanhas
É um dizer popular
Que há muito se conhece
E para isso provar
De um patuá milagroso
Em rimas vou lhes falar:
Contam que certa vez,
O dia já terminava,
O sol já se escondia
O cristão viajava,
O cristão viajava,
Montado um animal
Que cansado já estava.
Ao avistar uma luz,
Da casa se aproximou
E co, palmas repetidas
Na porta, ele chamou,
“Oi de casa! de casa! ! sou de paz!”
E nestes termos falou:
- Nois tamomuito cansado.
Eu e o meu alazão
Viajemo todo o dia
Tomano esse solão.
Vosmecê me dá umpouso
Nem qui seja no garpão?
-
Infilizmente não posso,
E ocê vai intendê,
To num apuro danado
E num sei o que faze.
Há treis dia a muié.
Ispera o fio nascer.
- A parteira não ajuda?
- Ajuda sim, já tentô.
Já deu uma beberage,
Aio com sebo passô.
Tento^virá a crianca
E a muié só piorô.
- Mais isso logo resorve
Ocê pode me trazê
Um papê e a caneta
Pra mode eu escreve,
A oração do partero
Que faiz quarqué um nascê?
Às pressas o pobre homem
Caneta e papel pegou
E Chamando pela sogra
Em voz alta ordenou:
Em voz alta ordenou:
“Vê se tem café coado,
Trais pro moço que chegou
Pega o cavalo fio.
Tira a sela primeiro,
Bota ele pra bebê,
E Sorta lá no mangueiro
Que o amigo vai fazer
A oração do partero”.
De posse do que pediu
O Viajante escreveu,
A Prometida oração
E num paninho a coseu.
A mulher com fé ardente,
Com o patuá se benzeu.
Pra todos, aquele homem
Foi enviado por Deus
E tão crédulos estavam
Que o pai compadeceu,
E num rápido momento
O
Pequerrucho nasceu.
E o santo patuá
De casa em casa, ia.
E por estar bem sujo,
Resolveram certo dia
Trocar aquele paninho
Do escrito que dizia:
“Um dia ocê vai ri
Do que diz esta oração.
Tendo comida pra mim
E pasto pra o alazão
Não importo nem um poco
Não importo nem um poco
Se sua mulher pare ou não.”
Caminhos
Opostos
Na demarcação das terras
Sem limites
definidos,
Surgiam
sérios conflitos,
Que eram
submetidos
A arbitragem
de homens,
Do assunto
entendidos.
Faziam a
vistoria
Da área em
questão,
Liam os
documentos
Com a devida
atenção,
E ouvindo
testemunhas
Tomavam a
decisão.
Em Carnaíbas
de Fora
Um fato
triste se deu:
Ao demarcar
um limite
Alguém não
compareceu,
E sem aquela
presença
A questão se
resolveu.
Decidido o
impasse
A contento
se abraçaram,
Mas a
caminho da Vila
Ex-amigos se
encontraram,
E sem nenhum
cumprimento
Nem mesmo se
entreolharam.
O coronel
Bezerra
Só meia
légua andou,
Quando João
Marcelino
Com dois
capangas passou,
E em direção
oposta
Cada qual
continuou.
Vinha
Gustavo Bezerra
Com mais
quatro cavaleiros,
E depois de
se cruzarem
Com
Joãozinho Coureiro,
Retornarem
ao local
Sugeriu um
companheiro.
Dando de
rédeas pra trás
A galope
cavalgaram,
No encalço
de Coureiro
E quando se
defrontaram,
Poucas
palavras disseram
E um duelo
travaram.
De
revólveres em punho
Salataram
dos animais,
E terminadas
as balas
Sacaram de
seus punhais.
Por terra
caiu Gustavo
Lutar não podia
mais.
Só houve
intervenção
Dos
presentes aturdidos,
Quando
aqueles contendores
Já
mortalmente feridos,
Não se
continham de pé
Com os
golpes desferidos.
Entre
Gustavo e coureiro,
Richa já
existia.
Pois daquela
decisão
O Coureiro
não sabia,
E a terra em
questão
A eles não
pertencia.
À sede do
Cubículo
Alguém teve
que voltar,
Pra ao
coronel Chiquinho
Ajuda
solicitar,
E ele com
duas redes
Socorro veio
prestar.
Carregado
numa rede
Pelos dois
capangas seus,
Gustavo
deixou o lajedo
Onde a luta
se deu,
E sob uma
aroeira
Suspiros e
faleceu.
Também com
risco de vida
Do local se
afastou,
O Joãozinho
Coureiro
Que vivo em
casa chegou,
Mas as
forças lhe fugiam
E sem demora
expirou.
Uma
acomodação
Facilmente
resolvida,
Foi o
pretexto da luta
Sem razão
esclarecida,
Que tornou
velhos amigos
Mutuamente
homicidas.
Na política
local,
Bezerra foi
atuante.
Da vida do
arraial
Foi vulto
participante,
O maior dos
fazendeiros,
E grande
comerciante.
A morte
inesperada
Do líder tão dedicado,
Deixou o
grupo político
Acéfalo e
abalado,
Mas logo com
muito acerto
Foi outro
chefe indicado.
Beija-Flor é livre e livre voa
O respeitado
Gustavo
Teve como
sucessor,
O coronel
Cajayba,
Homem de
grande valor,
Que muito
contribuiu
Pra libertar
Beija-Flor.
O novo líder
político
Ao assumir a
chefia,
As ordens de
Monte Alto
Nem sempre
ele cumpria,
E com tática
política
Sabiamente
agia.
Antes da
emancipação
Da vila se
separou,
A Lagoa da
Espera
Que Distrito
se tornou,
E com área
reduzida
Beija-Flor
se libertou.
Uma Lei Estadual
O município
criava
Em quatorze
de agosto
Beija-Flor
emancipava.
Em primeiro
de Janeiro,
O Intendente
empossava.
Em pleno
século vinte
A Vila se
promoveu.
Tornou-se
independente
E quando
isto se deu,
Foi em
tupi-gurarani
O nome que
recebeu.
Beija-Flor é
Guanambi,
Assim o
índio ensinou.
O topônimo
atual
Em sentido
não mudou,
Apenas sua
agrafia
As letras
todas trocou.
A Lei um
três, meia, quatro,
Que do
Estado emanou,
Não relatou
os limites,
Apenas os
conservou.
E sem retificação
A área
continuou.
Uma casinha
de taipa;
Umpequeno
povoado;
Um arraial,
uma vila;
O município criado;
E Balbino
Gabriel
Intendente
empossado.
O primeiro
governante
Comedido e
previdente,
Ao assumir
as funções
Como chefe
intendente,
Decretou o
orçamento
Para o
exercício vigente.
Em doze
contos de réis
A receita
ele orçou,
E em igual
importância
A despesa
fixou,
E ao criar
dois Distritos
Segunda Lei
assinou.
Sem nenhuma observância
Do que por
lei é devido,
Com mais ou
menos dez casas,
Sem mínimos requisitos,
Em Mucambo
instalou-se
O segundo
dos Distritos.
Esta Lei
número dois
Os limites
remarcou
E de outros municípios
Parte de
terras tirou,
E Lagoa da
Espera
A Guanambi
retornou.
Dia oito de
janeiro
Foi a Lei
sancionada,
Sendo sua
existência
Em edital
divulgada,
Quando foi
pelo Estado
A mesma Lei
confirmada.
Por mais de
um ano e meio,
Em sigilo
foi guardado
O conteúdo
da Leia
Em vinte e
dois publicado,
Através de
editais
Em locais
afixados.
A comunhão
de ideias
Teve pouca
duração,
E alguns já
se opunham
A
administração,
Tornaram-se
adversários
E fazendo
oposição.
O grupo
antes coeso
Agora se
dividiu,
E Balbino
Cajayba
Inimigos
contraiu.
Desgostoso
com os fatos,
Do mandato
desistiu.
O prestígio
não perdeu
E isto ficou
provado,
Por ter sido
seu sobrinho
Candidato
indicado,
João Exalto
Araújo,
Em seu lugar
empossado.
Por berço
teve queimadas;
Na Capital
foi morar;
Residia em
Caetité
Quando
resolveu mudar;
Na vila de
Beija-Flor
Resolveu se
instalar.
Na política
local
Balbino se
filiou,
Com a morte
de Gustavo
Grande líder
se tornou,
Foi o
primeiro intendente
Da vila que
emancipou.
O QUE OUTROS
PESQUISARAM
E ALGO QUE
OUVI CONTAR,
EM VERSOS EU
TRANSCREVI,
E ESTOU A
RECONTAR.
MANTIVE
FIDELIDADE,
PROCUREI NÃO
DETURPAR.
Guanambi, uma terra, vários nomes
Foi
Beija-Flor o teu nome primeiro.
Como prova
de fé e devoção,
Foste doada
ao Santo Português
A quem teu
povo invoca em oração,
E que de ti
o protetor se fez.
Uma aversão
diz que este teu nome,
Lembra
alguém que tudo liderava
E iniciava
as preces ao Senhor.
Que os canto
ssacros sempre entoava,
E a quem
diziam: “Vem beijá, Fulô.”
Muitos
daqueles que aqui viveram
Outra versão
tiveram pra contar:
Atribuíram o
nome ao Colibri
Que sobre
flores vinha adejar,
Presságio
certo de um feliz porvir.
Outro topônimo
tu recebeste
Quando
deixaste de ser arraial.
O
Decreto-Lei que te promoveu,
Também te deu um nome oficial,
Mas a
mudança não aconteceu.
A Lei ditou
o nome Bela Flor,
E da origem,
a suposição,
É que
quiseram homenagear
Bela com a
casa de Oração,
E Flor, a
bela moça do lugar.
Tu,
Beija-Flor, ao te emancipares,
Tiveste o
nome outra vez mudado.
Foram
busca-lo na língua tupi,
De igual
sentido, porém deturpado.
Beija-Flor,
chamaram-te Guanambi.
Nossos
vizinhos te apelidaram Quebra,
Por ser
frequente aqui a expressão:
“Se não der
certo, o pau vai quebrar.”
Também
porque, muitos que aqui vinham,
Tudo perdiam
no jogo de azar.
Também
tiveste um nome afetivo
E que a
muitos traz recordação,
Pois foi
cantando para não chorar,
Foi
despedindo-se com emoção,
Que te
entoaram: “Adeus Parurá!”
Quando
tiveste luz e água farta,
Muito
cresceste, tudo melhorou,
Todo setor
entrou em reação,
E um cognome
alguém te legou:
“Guanambi,
“Capital do algodão.”
Fulguras
hoje na Constelação
Dos grandes
centros deste nosso Estado.
Imitaste o
sutil Colibri
Que veloz
voa para todos os lados,
Terra
querida, minha GUANAMBI.
Canção a Guanambi
De um
pequenino ser, o nome herdaste.
Por muito
tempo foste Beija-Flor.
Dos que aqui
nascem és a terra amada.
Aos
imigrantes dás guarida e amor.
Teu
pôr-do-sol encanta e nos deslumbra,
E ao poeta
traz inspiração.
Calor humano
aquece tua gente,
Que crê em
Deus e vive em união.
REFRAÃO:
TEU SOLO
FÉRTIL NOS CARANTE O PÃO.
TEU CLIMA
AMENO, SAÚDE NOS DÁ.
E O
MILAAGROSO ANTÔNIO PADROEIRO,
ESTENDE AS
MÃOS A NOS ABENÇOAR.
Em tempos
idos, oh! Quanta saudade!
Quão animada
a festa de São João”
A marujada e
os blocos de Reis,
Faziam parte
de tua tradição.
Inesquecíveis
são as serenatas,
Que se ouvia
em noites de luar!
Quando mãos
hábeis dedilhavam acordes,
E um
seresteiro punha-se a cantar.
REFRÃO
Cortava os
ares, o som do berrante,
Se uma
boiada estava a passar.
Densa poeira
cobria o estradão,
E outros
vaqueiros cantavam a boiar.
Canonizada
não é Leocádia,
Mas faz
milagres e aquele que crê,
Em sua cova deposita
flores,
Preces e
velas vão lhe oferecer.
REFRÃO
Neste baixio
do sertão baiano,
Tu te
destacas, és grande cidade.
Porque teu
povo é laborioso,
E o teu
progresso é realidade.
Eu te
bendigo terra mui querida!
E o que
desejo minha Guanambi,
É que o amor aqui sempre perdure,
E eu nunca
venha me ausentar de ti.
Beija...Beija...beija-Flor
Em plena
selva um dia surgiste,
E do teu
nome não se sabe o autor,
Tão
pequenina foste no passado
Que
apelidaram-te de Beija-Flor
Feliz
presságio sugeriu teu nome
Pois tu és
hoje cidade primor.
Do
Intendente as leis emanadas,
Nossos
anseios vinham coibir
De mãos
atadas e passos tolhidos
Sem
liberdade de pensar e agir
Teu povo
altivo e forte rebelou-se
E as algemas
conseguiu partir.
Na feliz
data da Independência
Por bem
acharam teu nome mudar
E um
sinônimo de Beija-Flor
Noutro
idioma foram encontrar.
Guanambi é o
mesmo colibri,
E a cidade
assim fez-se chamar.
Há oitenta
anos te emancipaste
E o quinto
abraço irás receber.
Mais
caloroso, ceio de afeto,
Simbolizando
o nosso bem-querer
Com o desejo
de que muito cresças
E aqui
possamos felizes viver.
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