LIVRO: Rimando a História
autora Dulce da Silva Meira
A Lagoa
Pág.: 45 a 49
Ao lado
leste da vila
A lagoa se
estendia.
Em suas
águas serenas
A lua se
refletia,
As aves se
aninhavam,
Entre o
golfo que floria.
Frangos
d’água e chanans
Sobre o
golfo caminhavam,
E ao
sentirem perigo
Os filhotes
mergulhavam
Cágados e
jacarés
Sobre pedras
sol tomavam.
Garças e Marias-pretas
Em cores a
constrastar,
Aos socós se
misturavam
E na água a
caminhar,
Peixes,
insetos, moluscos,
Todos
tentavam pegar.
O martinho
pescador
As águas
sobrevoava,
E com visão
aquilina
A boana
acompanhava,
E num súbito
mergulho
Da água
peixe tirava.
A partir do
mês de julho
Quando a
seca iniciava,
Na depressão
da lagoa
Em qualquer
lugar minava.
E abrindo-se
cacimbas
A água logo
brotava.
Diminuindo a
água,
Todas as
plantas morriam,
As aves se
arribavam,
E os
batráquios fugiam.
Facilmente
se pegava
Peixes que
sobreviviam.
Foi em
um desses períodos,
Que
resolveram fazer,
Um tanque
que por mais tempo
Pudesse água
conter,
Para o
consumo doméstico
E a criação
beber.
Pedras que
se sobrepunham
Marcavam a
direção,
Do tanque
chamado Pote,
Cavado na
depressão,
Onde exímios
nadadores
Faziam
exibição.
Além da
Pedra do Pote
Também
merece menção,
A Pedra das
Lavandeiras
Com cores em
profusão,
Onde se
corava roupas
Depois de
dar o sabão.
Outro ponto
de destaque
A lagoa
possuía:
Era o Poço
dos Caboclos
E bem perto
existia,
Salinas onde
o nativo
Sal da terra
extraía.
Ao avizinhar
a chuva
Queimava-se
a sujeira,
E a enchente
do Belém
Carregava a
podriqueira,
Que ao sair
da lagoa
Caía na
ribanceira.
Se a chuva
demorava
A população
sofria,
Pois a água
pra beber
Só distante
existia,
Em aguadas
privativas,
Quando o
dono consentia.
Diante do
sofrimento
Restava
apenas orar.
Descalços em
procissão
Fervorosos a
cantar,
O pé do
Santo cruzeiro
Contritos
iam molhar.
Por
carreiros bem estreitos
Em filas se
caminhava
Desde alta
madrugada
Até que o
sol entrava,
Na cabeça ou
no ombro
A água se
carregava.
Com a água
das enchentes
Entulhos
foram chegando,
E com o lixo
de quintais
Foram se
acumulando,
E o leito da
lagoa
Mais raso
foi se tornando.
Uma solução
viável
Tomada sem
relutar,
Foi
construir a tapagem
Pra mais
água represar,
E não faltar
como sempre
Antes da
chuva chegar.
Terminada a
tapagem
A enchente
não tardou,
E por perto
da lagoa
Muita gente
esperou.
Pelo Largo
dos Tropeiros
A água se
espalhou.
A construção
da tapagem
A memória
não olvidou.
Por ouvir
contar, se sabe
Que ali se
iniciou
A cina de
uma jovem
Que a morte
cedo levou.
E foi sem um
plebiscito,
Até sem
muito pensar,
Que o Poder
Municipal
Achou por
bem aterrar,
A lagoa que
fez parte
Da vida
deste lugar.
O sal da terra
Pág.: 50 a 51
Em tempos
muitos remotos
Da vida do
arraial,
Em um
trabalho moroso
Todo ele
manual,
Caboclos e
os mais pobres
Do solo
tiravam o sal.
O referido
trabalho
Qualquer
pessoa fazia.
Não exigia
esforço,
Ciência não
possuía.
Geralmente
as mulheres
O ofício cometia.
Não se usava
enxada
Para a terra
juntar,
Acreditando
que o ferro
Além de
afugentar,
O sal a ser
extraído
Pudesse
contaminar.
De muares e
quinos
As omoplatas
se usava,
E numa
destiladeira
Terra e água
colocava,
A água
lavava a terra
E em
gotinhas pingava.
Aquela água
salobra
Em vasilhas
recolhida,
Transformava-se
em sal
Ao se tornar
ressequida,
Quando
levada ao fogo
Ou quando ao
sol mantida.
A qualidade
do sal,
A sua
coloração,
Estavam na
procedência,
Local de
fabricação,
Sendo o da
Caiçara,
De maior
aceitação.
O chamado
sal da terra
Que aqui se
extraía,
Em parte era
usado,
Boa parte se
vendia.
Pois o
branco sal do mar
Pouca gente
conhecia.
Dos pontos
de extração
Um apenas é
citado:
O do Poço
dos Caboclos
Mais perto
do povoado,
Local que
por mais de século
De Salina
foi chamado.
Capulhos Brancos
Pág.: 52 a
55
Base da
economia,
Sempre foi o
algodão,
Que plantado
no baixio
Dava boa
produção,
Com apenas
as espécies
Rim-de-boi e
maranhão.
Poucos
tratos culturais
A lavoura
exigia.
Com ciclo de
cinco anos
A planta
muito crescia.
Sem a
lagarta rosada
Bons
capulhos produzia.
Uma mínima
proção
Do algodão
produzido,
Destinava ao
trabalho
Por mulheres
exercido,
Indo do
descaroçar,
Culminando
no tecido.
Em um
descaroçador
As sementes
retiravam;
Com arco
batiam a pluma;
Em roca ou
fuso fiavam;
Redes,
cobertas, toalhas,
Em um tear
fabricavam.
As moças não
precisavam
Nem deviam
saber ler,
Para que aos
namorados
Não soubessem
escrever.
Todas tinham
como dote,
Saber fiar e
tecer.
Colhido em
quantidade
O algodão
cultivado,
Num sistema
primitivo
Era
beneficiado,
E em animais
cargueiros
Logo era
exportado.
Retirados os
caroços,
A fibra era
apertada
Numa prensa
manual,
E em fardos
transformada,
Pesando
cinquenta quilos
E com couro
capeada.
Com o
decorrer dos anos,
Já não se
usava mais
Velhos
descaroçadores
Rústicos e
manuais.
Outros
maiores surgiram
Puxados por
animais.
Usou-se
força motriz,
Na usina
algodoeira,
Que pra
funcionamento
Contou com
grande caldeira,
Tendo por
proprietário,
O Doutor
Mário Teixeira.
Transportou-se
a caldeira,
Pesado
material,
Com grande
dificuldade
Em carreta
especial,
Por juntas
de boi puxada
Até a usina
local.
Pelo Rio São
Francisco
Em Malhada
aportou,
E de lá até
a Vila
Muitos dias
se gastou,
Pois o
transporte por terra
Mais difícil
se tornou.
Mil,
novecentos e doze,
Ano em que
se montou,
A empresa
Sertaneja
Que força
motriz usou,
Modernizando
o sistema
Que até
então adotou.
Por vinte e
cinco anos
A usina de
algodão,
Além da
torta e óleo
Também fazia
sabão.
Foi vítima
de dois incêndios
Mas retomou
a ação.
O algodão,
Ouro Branco,
Tem seu
valor comprovado.
Das fibras,
faz-se tecidos,
O caroço é
usado
Na
fabricação de óleo,
Torta ou
fubá para o gado.
O valor
medicinal,
Há muito se
conhecia:
A folha,
corta catarro,
E também
disenteria.
O sumo cura
feridas,
O dolorido
alivia.
Em destaque
na Bandeira,
Um galho de
algodão
Reflete a
importância
O valor da
produção.
É a nossa
homenagem
Expressa no
pavilhão.
O Ponto de Encontro
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60
Em tempos
que anteciparam
A formação
do arraial,
Existiam
poucas casas
E um ponto
comercial.
Fez-se então
imperativa,
Uma feira
semanal.
Chamava-se
de Escambo,
O comércio
que fazia,
Sem que
houvesse dinheiro
Pois moeda
não havia.
Os negócios
eram feitos
Trocando
mercadorias.
Libertando
da usura
De um único
vendeiro,
Reuniam-se
feirantes
E primeiros
bruaqueiros,
Na sombara e
ao redor
Dum altivo
umbuzeiro.
“Era na rua
de Baixo
O descanso
costumeiro,
Daqueles que
viajavam
Levando
animais cargueiros,
Por isso
mudou-se o nome
Para Largo
dos Tropeiros.
Pensando em
maior lucro,
Transportavam
os feirantes
O que tinham
pra vender,
Pra outras
feiras distantes
Em lombo de
animais,
Numa viagem
ofegante.
Vendeiros de
Caetité,
Parateca e
Urandi,
Monte Alto e
Umburanas,
Pernoitavam
sempre aqui.
Sendo esta a
tradição
Da feira de
Guanambi.
O dia
estipulado
Para a feira
semanal,
Sempre foi
considerado
Bom fator
comercial,
Por não
haver neste dia
Feira em
outro local.
Vasta
coberta de palhas
Naquela
praça existiu,
Até que um
barracão
Que com
telhas se cobriu,
Todo em
madeira de lei
No mesmo
local surgiu.
Por muitos e
muitos anos,
Monte Alto
dirigiu
A vila de
Beija-flor,
Que em nada
progrediu,
E contra
aquele domínio
O povo se
insurgiu.
Um político
da terra
Pra fazer
oposição,
Sugeriu a
Monte alto
Transferir o
barracão,
E a ordem
expedida
Causou
insatisfação.
Para a Baixa
da Égua
Levar-se-ia
o mercado,
E os buracos
dos esteios
Logo foram
perfurados,
Ao tempo em
que na praça
Iniciava o
mandado.
Ao lado do
barracão
Um carro de
bois estava,
E nele, o
empreiteiro
A cancela
colocava,
Quando
Gustavo Bezerra
Do local se
aproximava.
Foi como
chefe político,
Homem sério
e valente,
Que o
coronel Bezerra
Demonstrou a
toda gente,
Que não mais
se cumpriria
Certas
ordens do Intendente.
Surpreso e
temeroso
O empreiteiro
falou:
3/4 coronel,
eu sou mandado.
3/4 pois outra ordem lhe dou:
Coloque já a
cancela,
Conserte o
que desmanchou.
Aqui vêm
pernoitar,
Soldados e
delegado
Para a ordem
manter,
Na mudança do mercado.
Mas ao andar
pela rua
Um deles foi
espancado.
Temendo a
reação
Que iriam
encontrar,
Bateram em
retirada
Sem o
barracão mudar,
E ao
Intendente disseram
O que os fez
retornar.
Foi aquela
agressão
Uma forte
advertência.
E não teve
uma revanche
Por bom
senso e prudência,
Pois se
deduziu do fato
Anseios de
Independência.
A feira foi
se tornando
A maior
deste sertão,
Com os
produtos da terra
Arroz,
milho, feijão,
Com a
produção de peles
E o comércio
de algodão.
Em nada os
órgãos públicos
Davam
contribuição,
Mas a feira
atraiu
Pessoas da
região.
Que tiveram
na política
Grande
participação.
Só no meado
do século,
O Prefeito
Municipal
Construiu
outro mercado,
Bem abaixo
do atual.
E para
inaugurá-lo,
Lá se
brincou carnaval.
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