segunda-feira, 5 de setembro de 2016

livro: Rimando a História
Autora: Dulce da Silva Meira


A Marujada
Pág. 82 a 84

Chama-se Marujada
Uma dramatização,
Que faz parte do folclore
E de nossa tradição.
Que enfoca a peleja
Entre mouros e cristãos.

Rememorando batalhas
Há muito tempo travadas,
Na Península Ibérica
Em livros historiadas,
Como dança popular
Inventou-se a marujada.

Pretendia o Rei cristão
Do paganismo tirar,
O poderoso rei mouro
A quem teve que enfrentar
Mas conseguiu convertê-lo
E até fê-lo batizar.

Partindo do litoral,
No sertão se arraigou,
E por todo o Nordeste
O público conquistou.
Vindo de remotas eras
Ao nosso dias chegou.

Os seus ritmos são a marcha,
Ordinário e bailado,
Controladores dos passos
Por uma caixa marcados,
E nessa mesma cadência
Os cantos são entoados.

Vermelho usam os mouros,
Azul-claro os cristãos.
Rei, Rainha, general,
Soldados e Capitão,
São tripulantes em guerra
A bordo da embarcação.

Homens simples, pescadores,
Fazem a encenação,
Com cantos ora alegres,
E outros que tristes são,
Mas finalmente a vitória
Comemora o Rei Cristão.

Ao ser preso o Rei Mouro
Acredita ser verdade,
Que só Deus é soberano,
E pede por piedade,
Que lhe dêem o batismo
Em nome da cristandade.

Com precisão não se sabe,
Quando na vila estreou
A dança da marujada,
Nem quem a organizou.
Apenas do ano quinze
Uma lembrança ficou.

Senhor José Costa Santos,
Por Leca apelidado,
Conta que aos cinco anos
Pelo pai incentivado,
Como marujo mirim
Na dança foi colocado.

A marujada ficou
Por anos desativada,
E graças ao Senhor Leca
Que a tinha memorizada,
Às ruas retornou
Como antes animada.

O Reisado e a Marujada
Senhor Leca liderou.
Sua voz firme e bela
Por toda a vila ecoou
Tornou-se um vulto histórico
Vivo se imortalizou.


Os  Bailes  No  Beija-Flor
Pág.: 85 a 89

Na vila de Beija-Flor,
Bailes se promoviam,
Por motivos corriqueiros
E sempre aconteciam,
Em casas de residências,
Pois clubes não existiam.

Sanfonas de oito baixos
Por longas horas tocavam,
Cavaquinho e violão
A elas acompanhavam,
Pandeiros e até colheres
A harmonia completavam.

Dançava homem com homem
E mulher só assistia,
Sema graça feminina
O CACETE acontecia,
E pouco tempo durou
Por ter gerado anarquia.

Muito tempo decorreu
Para a mulher conquistar,
Permissão para os anseios
Da dança participar,
E na oportunidade
O bem-amado abraçar.

Sempre com acompanhantes
As moças às festas iam,
E àquelas pessoas
Os cavalheiros pediam,
Permissão para a dança
Com a jovem que escolhiam.

Entre civilizados
O convite se fazia,
Aproximando da moça
Com quem dançar pretendia
Estendendo a mão direita,
Onde um lenço se via.

O rapaz de classe média
Sem éticas conhecer,
Dirigia-se à moça
Para o convite fazer,
Apenas lhe perguntando:
“Quer me dar este prazer?”

Ser aceito o convite
De honra era questão.
O que fosse desfeitado,
Ao ouvir um simples não,
Retirava-se da festa,
Ou fazia confusão.

Depois de uma TABOCA
A jovem não mais podia,
Dançar com outro alguém,
No baile daquele dia.
E pra evitar tumulto
Do salão também saía.

O amor próprio ferido
Uma desforra cobrava,
E com a mão na sanfona
Irado esbravejava:
“Não danço, eu, nem ninguém,”
E o baile terminava.

A desfeita de um não
Durava se dissipar,
E o moço envergonhado,
Ainda tinha que aturar,
As críticas que faziam
Os rapazes do lugar.
Com o passar do tempo
As coisas foram mudando
As mulheres submissas
Foram se libertando,
E na sociedade,
Espaço foram ganhando.
Com a graciosidade,
A mulher peculiar,
Uma dupla feminina
A dança vai começar.
Com palmas dois cavalheiros
As damas vão separar.

Vez por outra acontecia
Um cavalheiro sobrar,
E às vezes longo tempo
Ficava a esperar,
Para na próxima moda
Conseguir com quem dançar.

Não demorou que surgisse
Em forma de brincadeira,
A entrega da ARARA
Exisgindo ação ligeira,
Quando alguém que dançava
A outro dava a parceira.

Temerosos e atentos,
Ficavam os cavalheiros
Para não ser o ARARA
No momento derradeiro,
Quando sem nenhum aviso
Parava o sanfoneiro.

Enquanto todos dançavam
Com grande animação,
Alguém com uma fita,
Flor ou chapéu na mão,
Anunciava em voz alta:
“A ARARA, entra em ação.”

Os rapazes procuravam
Dela se distanciar,
Por não poder recusá-la
E não ter que entregar
Às vezes a namorada,
Com quem estava a dançar.

Com a súbita parada
Aumentava a euforia,
E o ARARA vaiado
Zangado não parecia,
E a festa continuava
Na mais perfeita harmonia.

Pra descontar o ARARA
Não tardou a aparecer
O BIS que critica gerou
Por alguém assim dizer:
“BIS outra vez sanfoneiro,
Que dançar é um prazer.”

Brinquedos E Brincadeiras Infantis
Pág.: 90 a 92

Através das gerações,
Aprendemos do passado,
Brinquedos, contos, costumes,
Que nos foram ensinados,
E por serem tradição
Ainda são praticados.

 Brinquedo é objeto
Usado para brincar,
Ou ainda é o jogo
Que não se pensa ganhar.
Não visa uma conquista,
Joga-se por jogar.

Às vezes brinca-se só,
Por mero, simples prazer,
Encanto na brincadeira
Outros vão se envolver,
E a disputa provoca
O desejo de vencer.

Em Beija-flor as crianças
Brincavam de cabra-cega,
De bate e corre, picula,
Durim-durim e peteca,
Boca de forno, aneizinho,
Peito de vaca e boneca.

Não havendo como hoje,
Brinquedos sofisticados,
Jogavam malha, jereba,
E faziam cozinhado.
Brincavam com bois de osso,
E chicotinho queimado.

Com cata-ventos corriam
Macaco e corda pulavam.
Balançavam em gangorras,
Papagaios empinavam.
Jogavam pião, ioiô,
Assim, crianças brincavam.

É a cantiga de roda
Uma manifestação,
De sociabilidade,
E permite a transmissão
De quadrinhas populares,
Para outra geração.

Tem a roda infantil
Valor associativo,
E revela a tendência,
E a acuidade do ouvido,
Tornando-se para a música
Um verdadeiro incentivo.

Influência portuguesa
E africana também,
Tem a cantiga de roda
Que de muito longe vem.
Hoje é pouco ouvida.
Só o folclore a mantém.

Retorne à infância,
Para comigo cantar:
O vapor de cachoeira
Não navega mais no mar.
Dasanda a roda, toca o buzo,
Nós queremos navegar.

Esta quadrinha de roda
Um dia voc~e jogou?
O anel que tu me deste
Era de vidro e quebrou.
O amor que tu me tinhas
Era pouco e se acabou.

Brinquedos e brincadeiras
Que praticamos um dia,
Relembram os belos tempos
Quando cada um queria,
Crescer logo, ser adulto.
Era feliz, não sabia.


Crendices  Populares
Pág.: 93 a 95

Crenças e rituais
Existentes no passado,
Neste final de milênio
São ainda observados,
Como o canto da coruja
Que nos deixa amedrontados.

O que diz do dia treze?
É aziago, ou não?
O teze é de mal agouro,
Qual a sua opinião?
Dá sorte ou traz azar?
Ou é só superstição?

Ensinaram os antigos
Que pode trazer azar,
Passar em baixo de escada,
A mulher assoviar,
E o cabo da vassoura
Para baixo colocar.

Ainda recomendavam
Alguém nunca se sentar,
Por curto que seja o tempo,
Numa pedra de amolar.
Se você não sabe o risco,
Procure se informar.

O minúsculo vim-vim,
É capaz de transmitir
As boas ou más notícias
E pode-se lhe pedir,
Que se for feliz presságio
Queira o canto repetir.
A depender da espécie,
E até mesmo da cor,
De alegria ou tristeza
 Nos fala o beija-flor.
O de rabo-de-tesoura
Anuncia pranto e dor.

Pisar no rabo do gato,
As moças devem temer,
Como também evitar
Que seus pés venham varrer,
Pois ficarão solteironas,
Se isso acontecer.

Sete anos de atraso,
Para quem um gato matar.
Terá muitos dissabores,
Quem gato preto encontrar.
E se for à meia noite
Mal pedaços vai passar.

Achar alfinete, é sorte.
Achar agulha, é azar.
E é sinal de tormentos,
O espelho se quebrar.
Se apenas se rachou
Não o deve conservar.

Em clima de brincadeira,
Na noite de São João,
Os casais enamorados
Faziam adivinhação.
Tal crendice revelava
Se casariam ou não.

Num caule de bananeira
Uma faca colocada,
Ao amanhecer o dia
De lá era retirada,
Tendo da cara metade
Inicias desenhadas.

Fazem parte do folclore
Crenças infundamentadas,
Por uns desrreconhecidas,
Por outros acreditadas,
E vão ao novo milênio,
Pela história recontadas.

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