LIVRO:
Rimando a História
Autora: Dulce da Silva Meira
Nas Pegadas Da História – págs.: 13 A 17
Baseando-se
em datas
E textos
documentais,
Fatos dantes
confirmados
E contos que
são reais,
Revelam
nossas raízes
E falam dos
ancestrais.
Vasculhando
o passado
Conseguiu-se
encontrar,
Alguns
registros antigos
E datas pra
comprovar,
Os fatos que
os antigos
Ainda sabem
contar.
Concatenados
os fatos,
Foi a
história contada,
E sua
veracidade
É por todos
confirmada.
Eu a
transcrevo na íntegra,
Em forma
versificada.
Precisando o
Brasil
Ser logo
colonizado,
Por El-Rei
João III,
Em lotes foi
retalhado.
À gleba de
Ilhéus,
Este chão
foi anexado.
Quase dois e
meio séculos,
Depois do
descobrimento,
Criou-se um
Território
Contendo o
documento,
A inclusão
desta terra
Ao novo
assentamento.
Santo
Antônio do urubu,
Paratinga
nestes dias,
Era vasto
território,
Muita terra
possuía.
A Beija-Flor
e Monte alto,
Seu domínio
estendia.
No século
dezenove
Por um
decreto assinado,
Monte Alto
se emancipa,
Sendo-lhe
incorporado
O arraial
Beija-Flor
De urubu
desmembrado.
Ao longo
desta história
Faz-se pouco
comentário,
Dos
primeiros moradores,
Grandes
latifundiários,
Da Fazenda
Carnaíbas
Primeiros
proprietários.
A fazenda em
destaque
Assim se
constituía:
A Carnaíbas
de Fora
Que aos
Castro pertencia,
E Carnaíbas
de Dentro
Onde a Vila
surgiria.
Foi João
Pereira Costa
Primeiro
desbravador,
Da Carnaíbas
de Dentro,
Fazendeiro
agricultor,
E da feira
semanal
Grande
incentivador.
Contam os
mais idosos,
Que desde a
formação,
Beija-Flor
já era palco
De brigas e
diversão.
A fama dos
desordeiros
Trouxe má
reputação.
Sem um
policiamento
Para o ordem
assegurar,
Nos
conflitos tão frequentes
Chegava-se a
matar,
E raramente
o culpado
Conseguia-se
flagrar.
É que
aqueles desordeiros,
Pra outro
lugar fugiam.
Trabalhavam
algum tempo,
Noutras
brigas se metiam,
E botando pé
na estrada
Para mais
longe partiam.
Lá na terra
bandeirante
Chegavam os
bagunceiros.
Neles a
índole má,
Sempre
falava primeiro,
Sendo por
isso chamados
Baianos
arruaceiros.
Por pouco se
irritavam,
Desaforos
não engoliam.
Eram também
vingativos
E p”ra
desforra partiam,
Assim que os
contendores
Em suas
frentes surgiam.
Também
deixava a terra
O pobre
trabalhador,
Mas o
conceito formado
Do baiano
brigador,
Dificultava
serviço
Pra pobre de
Beija-Flor.
Não eram só
os humildes
Que em briga
se metiam.
Pessoas
conceituadas
Também
matavam, morriam,
Mesmo tendo
em serviço
Jagunços que
os defendiam
O pobre era
chamado
Pau-d’água
ou cachaceiro,
Malandro ou
vagabundo,
Bandido e bagunceiro.
Do crime era
o autor,
Por não possuir
dinheiro.
Quantos
perderam a vida!
Quantos
foram espancados
A mandado
dos senhores
Homens
valentes e bravos,
Que tinham a
seus serviços
Os jagunços
e escravos.
Apesar de
ter má fama,
Baiano de
Beija-Flor,
Das agruras
desta vida,
Sempre foi
um vencedor.
Como todo
sertanejo
É forte e
trabalhador.
“Onde cai a semente, fixa a raiz” pág.: 18 a 28
José Dias
Guimarães
A terra
amada deixou,
Vindo para a
Bahia
Onde raízes fincou,
E neste
nosso sertão,
Fazendeiro
se tornou.
Era um
português nato
E o oceano
cruzou.
Buscando
dias melhores
Nas matas se
embrenhou,
E qui nestas
paragens
Muita terra
conquistou.
Fou em Urubu
de Cima,
Que José
Dias passou,
Uns anos de
sua vida
Quando ao
Brasil chegou,
E uma índia
bororó
Sem demora
desposou.
Nasceram
seis mamelucos.
Somente dois
são lembrados:
Joaquim que
doou a terra,
José Pedro
implicado,
No mais
hediondo crime
No seu tempo
praticado.
Em vida o
velho pai
Um pedido
lhes fazia:
Conservar no
lugarejo
Quem ali já
possuía,
Um casebre
pra morar
E
humildemente vivia.
O português
imigrante
Desbravador
pioneiro,
Deixou a
seus descendentes
Seus
legítimos herdeiros,
Tudo quanto
conquistou
Neste solo
brasileiro.
Ao fazer-se
a partilha,
Sem haver
oposição
Joaquim por
ser mais velho
Recebeu em
seu quinhão,
Terras onde
situava
A nova
povoação.
Na década de
setenta
Do século
dezenove,
Atendendo ao
pedido,
Um fato novo
ocorre:
Joaquim Dias
Guimaraes
Doar a terra
resolve.
A ocorrência
se deu.
Em dias duma
missão,
Lavrando-se
um documento
Fazendo a
doação,
Das terras
adjacentes
À casa de
oração.
De mil
metros foi a área
Doada
naquele dia,
Da fazenda
Carnaíbas,
Que então
lhe pertencia,
Ao milagroso
Antônio
Para a nova
freguesia.
Esta terra
promissora
Sempre
acolhia alguém,
Que vindo de
outras plagas
Pra viver
aqui também,
Construía
seu casebre
À direita do
Belém.
O riacho
temporário
Só poucos
meses corria,
E na época
das chuvas
A lagoa
abastecia.
Mas nos
meses de estiagem
Pouca água
ali se via.
Crescendo a
população,
O consumo
aumentava.
Diminuindo o
volume,
Salobra a
água ficava,
Não servindo para tudo
Pois impura
se tornava.
A partir do
mês de julho,
Em difícil
caminhada,
Água que
fosse potável,
Tinha que
ser apanhada
Na fazenda
Caiçara,
E noutras
áreas privadas.
Em cabaças,
potes, latas,
Pouca água
se trazia.
O constante
vai-e-vem
Parecia
romaria,
Indo do
alvorecer
Até terminar
o dia.
Os homens
sempre mais fortes
Duas latas
carregavam,
Penduradas
em um pau
Que no ombro
colocavam.
Com passos
cadenciados
As latas
equilibravam.
Tentando
amenizar
Dos pobres o
sofrimento
Joaquim e
companheiros
Comungam o
pensamento,
De evitar da
lagoa
Um maior
escoamento.
Aprovada a
ideia
Encontrada a
solução,
Duma tapagem
de terra
Teve início
a construção
Dando
oportunidade
Do povo
ganhar o pão.
Um coronel
lamentou
No problema
ter pensado,
Depois de
passar um ano
Que o negro
escravizado,
Pela
Princesa Isabel
Tinha sido
libertado.
Dos quatro
cantos da vila
Gente às
pressas vinha,
Trabalhar de
sol a sol
E por
pagamento tinha
Um quarto de
rapadura
E um litro
de farinha.
Dentre os
trabalhadores
Uma jovem se
achava,
E a gamela
de terra
Na cabeça
carregava,
De fraqueza
desmaiou,
Em jejum se
encontrava.
Levantaram-na
do chão,
Deram água
pra beber,
Enquanto um ex-escravo
A todos
fazia ver,
Que o ganho
de um dia
Não dava
para comer.
“Querem mata
nois de fome!
Quem recrama
tem razão
Vamo pará o
trabaio
Oceis
concorda ou não?
Nois diz pro
encarregado
Ir avisá o
patrão.”
Ciente do
ocorrido
Joaquim Dias
convocou,
Todos os
interessados
E o fato
relatou.
Depois de
muito pensar
A situação
contornou.
Ao procurar
solução
Pra o
serviço não parar
Alguém
lembrou dos caboclos
E sugeriu
sem pensar:
“Muito fácil
se resolve,
Põe caboclos
no lugar”.
3/4 Os
caboclos não trabalham.
Retrucou um
dos presentes,
3/4 Mas também não incomodam.
Disse
Joaquim num repente.
3/4 Não queiram importuná-los
Deixem em
paz essa gente.
O porquê da
veemência
Com que
Joaquim defendia,
Deve-se a
uma cura
Ocorrida
certo dia,
Quando um
ente querido
Em sangue se
esvaia.
Um caboclo
curandeiro
Foi por
Joaquim chamado,
Porque seu
filho Vicente
Por jararaca
picado,
Muito mal se
encontrava
E inspirava
cuidados.
O caboclo
prontamente
Ao chamado
atendeu,
E um preparo
de ervas
A Vicente
logo deu,
E invocando
tupã
O ferimento
benzeu.
A partir
daquele dia
O coronel se
sentia,
Devedor de
uma vida
O que nunca
pagaria,
Pois a cura
de Vicente
Ao caboclo
atribuía.
Joaquim não
relutou
E pra turma
não parar,
Pagar o
trabalho livre
Promete sem
hesitar,
E As Maria
de Brito
Contrata pra
cozinhar.
Ao serviço
sempre vinha
Muita gente
apreciar,
Homens
cavando a terra
Mulheres a
carregar,
Não faltando
Zé Louvado.
Sempre
alegre a cantar.
“Louvado
Santo cruzeiro
E nois que
vai lá leva
Pedra, água,
vela, frô,
Pra lá nos
pé nois botá
Lovado meu
pai do céu
Que a chuva
vai mandá.”
Lovada todas
as gene
Que aqui vem
trabaiá
Que procura
vê no sol
A hora de
armoçá,
Lovado inhô
Joaquim
O dono deste
lugá.
No início do
serviço
Um fato
triste se deu:
Uns ganhavam
a vida,
Alguém a
vida perdeu.
Ser bonita e
cobiçada
Foi o mal
que cometeu.
Mil
oitocentos e treze
Joaquim Dias
nasceu,
E com
Clemência Maria
Num lar
feliz conviveu,
Seis filhos
foram a prole
Que Jesus
lhes concedeu.
Além de doar
a terra,
O coronel
erigiu
A primeira
capelinha
Que
Beija-Flor possuiu,
E também um
cemitério
Pra família
construiu.
Aos oitenta
e seis anos
Joaquim Dias
faleceu,
E sua
própria família
Por muito
tempo o esqueceu.
E do povo
desta terra
Nem respeito
mereceu.
Numa terra
que foi sua,
Não puderam
preservar
Os sete
palmos de terra,
Onde ele foi
repousar.
Lá não se
acende velas,
Lá ninguém
via orar.
A família
omitiu-se,
E
espertalhões invadiram
A área do
cemitério,
E casas lá
construíram.
Mais tarde
da Prefeitura
Documentos
conseguiram.
Leocádia, A santa do Povo
Págs.: 29 a
45
O adágio diz
que os pés
Levam o
corpo à sepultura.
Tentando
ganhar a vida,
Uma pobre
criatura
Teve a vida
ceifada,
Por conta da
formosura.
Num seca
prolongada.
Por todo
este sertão,
Como muitos
uma jovem
Tomou uma decisão:
Deixar os
entes queridos,
Sair prá
ganhar o pão.
Deixando o
seu casebre
No Tanque de
Juazeiro,
Resolveu ir
para a Vila
Prá ganhar
algum dinheiro,
Sem saber
que o destino
É às vezes
traiçoeiro.
Dos pais
recebeu a bênção
E a todos
abraçou.
Com Dionísio
Carreiro
No carro se
acomodou,
E na curva
do caminho
Mais uma vez
acenou.
Olhos fitos
na estrada
Sem contudo
nada ver!
Desligou-se
do presente
E passou a
reviver
Momentos
dantes vividos,
Que lhe
causaram prazer.
Prá começo
de conversa,
O preto foi perguntando:
- Vosmecê,
já foi na Vila?
- Inhor não.
E tô vexano,
Pru mode qui
tia Joana
Desdonte tá
esperano.
Na rua das
Sete Portas,
Em casa de
uma tia
Leocádia
hospedou-se,
E não pensou
que podia
Causar
inveja, ciúme,
Que tão cedo
morreria!
Dezesseis anos
apenas!
Uma flor
ainda em botão!
Alvo de
tantos olhares
Por maldade
ou atração,
E com
mentiras forjaram
A sua
condenação.
Cabelos
castanhos, lisos,
Sobre os
ombros caídos,
Pele clara,
belo rosto,
Lábios de
pouco sorriso,
Olhar suave
e triste
De quem muito
tem sofrido.
Aqui chegou
Leocádia,
Prestes a
iniciar
O serviço da
lagoa
Que visava
represar,
Maior volume
de água
Para mais
tempo durar.
Com adultos
e idosos
Leocádia se
fichou,
Prá um
trabalho pesado
Que antes
não praticou.
E por estar
em jejum,
Certa manhã
desmaiou.
Com a gamela
caiu
E alguém a
socorreu.
Tentando
reanima-la,
Um copo
dágua lhe deu
Disse ter
tido tonturas,
E que a
visão perdeu.
Um
formigueiro humano
Naquele
local se via.
De fraqueza
e cansaço,
Em suaor se
exauria,
Mas ao ouvir Zé Louvado,
Até que se
divertia.
Baixo,
magro, de cor clara,
Cabelos
despenteados,
Mais ou
menos trinta anos.
Não era mal
humorado,
Não dava
respostas bruscas,
Assim era Zé
Louvado.
Na rua das
Aroeiras
Vivia sem
trabalhar.
Pelo Povoado
andava
Sem malefícios
causar,
E
improvisava versos
Prá ladainha
entoar.
“Lovado
Santo Antõe
E o Pade de
Catité.
Sá Maria das
Oveia
E todos os
coroné,
Na rua das
Sete Porta,
Lovada seja
as muié.”
Entre homens
e mulheres
Leocádia
trabalhava,
E embora
maltrapilha
Um coronel a
fitava.
E por pena
ou interesse
Um vestido
lhe ofertava.
Muito tímida
e receosa
À tia quis
consultar,
E com seu
consentimento,
O vestido
foi buscar
Na loja de
José Pedro,
Que não a
fez esperar.
O coronel
José Pedro,
Irmão de
Joaquim Dias
Era esposo
de Raquel,
Mulher
ciumenta e fria,
Que não
podia sonhar
Que o marido
a traía.
O Largo do
barracão
Leocádia
contornou.
Do balcão de
umburana,
Ela se
aproximou.
Cabisbaixa e
acanhada,
Para o
coronel falou:
- Eu vim
buscar, coroné.
Diz Leocádia
entrando.
-Pois bem!
Até que enfim!
E para atrás
se voltando,
Pegou o pano
escolhido
E três
metros foi cortando.
“Deus ajude
o Senhor!”
Diz Leocádia
ao sair,
E percebeu
que dois homens
Estavam a
lhe ouvir,
E que por
certo iram
O que viram
transmitir.
Marcolino,
um caseiro,
Do coronel
empregado,
Estava com
um amigo,
Tião de
Março chamado,
No momento
da entrega
Do vestido
ofertado.
Ao saírem do
local,
Marcolino
aproximou
Da
cozinheira da turma
E de
cochicho falou:
“Tu sabe que
a santinha,
Um vestido
já ganhou?”
Principalmente
as jovens
Do boato
aproveitaram,
Prá difamar
Leocádia,
E tanto,
tanto falaram,
Que aqueles
mexericos
Na casa
grande chegaram
Tentando
tirar proveito,
Prá agrado
receber,
Uma antiga
empregada
Resolve tudo
dizer,
A Raquel que
de tão pálida,
Parece
desfalecer.
Do serviço
da lagoa
Foi Leocádia
afastada,
Joaquim Dias
e a esposa
Tentam
acalmar a cunhada,
Que promete
se vingar
Pro se
sentir ultrajada.
Marcolino
seu caseiro,
Que o fato
propalou,
Por Raquel
pressionado
O
companheiro citou,
E ambos
testemunharam
Como tudo se
passou.
A prepotente
Raquel,
Resolve
chantagear,
E diz: “Quem
viu e falou,
Um sumiço
tem que dar.
Ou então, a
José Pedro,
Direi quem
veio contar.”
Sob ameaça
aceitam
O delito
cometer,
E o seio de
Leocádia
Eles prometem
trazer.
Pois Raquel
quer prepara-lo
Para o
marido comer.
Meia arroba
de café
E vinte
tostões recebem.
Numa venda
falam pouco,
E muita
cachaça bebem,
E quase
embriagados
O mau tempo
não percebem.
E saindo de
per si,
Logo vão se
encontrar.
E pulando
uma cerca,
A janela vão
quebrar,
Quando uma
tempestade
Começa a
desabar.
Noite erma!
Nem estrelas
Cintilam na
escuridão!
Um crime
premeditado
Não chega à
execução.
Os carrascos
se afugentam
Com chuva,
raio, trovão.
Frustrada a
tentativa
Procuram
arquitetar,
Novo plano
criminoso
E procuram
se informar,
Onde
encontrar Leocádia
Para o fato
consumar.
Bem cedo sai
Leocádia
Com a roupa
prá lavar,
No lajedo da
Caiçara
Onde a irão
encontrar,
Os malvados
homicidas
Que a
procuram prá matar.
No lajedo
põe a trouxa,
E o embornal
de comida
Pendura em
uma árvore.
Ao iniciar a
lida,
As pisadas
de animais
São por ela
percebidas.
Os carrascos
observam
Se não há
gente ao redor,
E vendo que
Leocádia
Está
realmente só,
Arrastam-na
para o mato
Sem
complacência, sem dó.
Recebe
golpes mortais,
E o corpo
ensanguentado
Cai ao chão
desfalecido,
E o seio
retirado.
Dentro de um
embornal
A Raquel
será levado.
“Pega a
corda, Tião,
Qui é prá
nois amarrá
A laje no
corpo dela,
E no
cardeirão jogá,
Se não essa
desgramada
Logo, logo
vai boiá.”
- A praga
ficô no torno.
Isquici, não
truxe não,
Mais vô pegá
o cabresto.
- Pois vai
correno, Tião
Se arguém vê
nois aqui,
Vamo mofá na
prisão.”
No século
dezenove,
Ano noventa
corria.
No segundo
mês do ano,
Vinte e três
foi o dia,
Que pelas
mãos de algozes
A vingança
se cumpria.
Deram sumiço
na roupa,
Passando a
relembrar,
Que nenhuma
outra vítima
Entregou-se
sem lutar,
Enquanto que
Leocádia
Só fez aos
Santos clamar.
Com a mente
conturbada
Apressam-se
em sair,
Mas a voz de
Leocádia
Chorando a
lhes pedir,
São ecos
repetitivos
Que sempre
irão ouvir.
Daquele
local sinistro
Tião sai a
cavalgar,
Um animal
sem cabresto
Que mal pode
dominar,
E dizendo
ouvir gritos
Começa a
alucinar.
Marcolino
apavorado,
Com cautela
entregou
O seio à patroa,
E logo se
retirou,
Prá que
ninguém percebesse
Que foi ele
quem levou.
Raquel
assume a cozinha
E não é
costume seu.
A si
pergunta a caseira:
“O que será
que lhe deu?”
E espiando
percebe
Que carne
ele recebeu.
Ordenou que
suas filhas
Antes da
hora almoçassem,
E que com
ela e o pai,
Na mesa, não
se sentassem,
Prá que suas
atitudes
Não as
decepcionassem.
Estavam os
dois na mesa,
Quando
Raquel perguntou:
“Estava com
muita fome?
E da carne,
você gostou?
É o seio da
vagabunda
A quem o
vestido ofertou.”
Zé Pedro
enfurecido,
Tenta a
Raquel agarrar.
Ela sai
espavorida,
Ele põe-se a
vomitar,
E a
criadagem atônita
Socorro vem
lhe prestar.
A tia de
Leocádia
Já muito
preocupada,
Dirigiu-se
ao lajedo
E ficou
apavorada,
Quando viu
em uma árvore
A capanga
pendurada.
Por dois
dias procurou-se
Até ao
anoitecer,
Percorrendo
a redondeza
Sem nenhum
vestígio ver,
E já
cansados resolvem
A procura
suspender.
Mas logo
noutro dia,
Luís
tropeiro passou,
No lajedo da
Caiçara
E ao
caldeirão levou,
O cavalo que
sedento,
Não bebeu e
refugou.
Um corpo
quase boiava
Numa água
avermelhada,
E montando
seu corcel
Luís sai em
disparada,
Prá dizer
que Leocádia
Havia sido
encontrada.
Em casa do
delegado
O veloz
corcel parou.
Vicente,
dono das terras,
Também os
acompanhou,
E uma pinta
na mão
O corpo
identificou.
Ao retirarem
o cadáver,
De dentro do
caldeirão,
Vicente
estupefato
Faz uma
afirmação:
“O cabresto
me pertence,
E o
criminoso é Tião.”
A putrefação
do corpo
Estava
adiantada,
Não voltando
ao arraial,
Lá mesmo foi
enterrada.
Tem feito
muitos milagres,
Mas não é
canonizada.
Por arbustos
e arvoredos,
Circundada a
cova está.
Velas,
flores, lhe ofertam...
E promessas
vão pagar.
Pelo muito
que sofreu,
Feliz no céu
deve estar.
Andando sem
rumo certo,
Tião sempre
inquiria,
A quem se
aproximasse
Para saber
se ouvia,
Os gritos de
Leocádia
Que
clemência lhe pedia.
Procurando
não ouvir,
Os ouvidos
apertava,
Enquanto
também aos gritos
Prá Raquel
ele falava:
“Entrega o
seio dela,
Mulher
endemoniada.”
Indo para
Monte Alto,
Foi visto
pela estrada,
Andando já
devagar,
Dando grito
e gargalhada,
Com dois
dias faleceu
Já em terras
da Malhada.
Bem perto de
Leocádia
Marcolino se
escondeu,
E não se
sabe ao certo
Com quantos
dias morreu.
Pagou caro
pelo crime
Tão atroz
que cometeu.
Dentro da
Toca do Índio
Era que
permanecia,
E foi
encontrado morto,
No espaço de
onze dias,
Quando já se
decompunha
E de bichos
se cobria.
Raquel,
mandante do crime,
A culpa não
assumiu.
Às pressas
prá Tremedal,
Com duas
filhas fugiu.
Zé Pedro
vendeu as terras,
E ao encontro
delas partiu.
Por algum
tempo, Raquel,
Ficou na
terra mineira,
E de lá
também se muda
Indo para
Pitangueiras.
Nesta vida,
foi Barretos
Sua morada
derradeira.
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