segunda-feira, 5 de setembro de 2016



LIVRO:
Rimando  a História
Autora: Dulce da Silva Meira

Nas  Pegadas Da História – págs.: 13 A 17
Baseando-se em datas
E textos documentais,
Fatos dantes confirmados
E contos que são reais,
Revelam nossas raízes
E falam dos ancestrais.

Vasculhando o passado
Conseguiu-se encontrar,
Alguns registros antigos
E datas pra comprovar,
Os fatos que os antigos
Ainda sabem contar.

Concatenados os fatos,
Foi a história contada,
E sua veracidade
É por todos confirmada.
Eu a transcrevo na íntegra,
Em forma versificada.

Precisando o Brasil
Ser logo colonizado,
Por El-Rei João III,
Em lotes foi retalhado.
À gleba de Ilhéus,
Este chão foi anexado.

Quase dois e meio séculos,
Depois do descobrimento,
Criou-se um Território
Contendo o documento,
A inclusão desta terra
Ao novo assentamento.

Santo Antônio do urubu,
Paratinga nestes dias,
Era vasto território,
Muita terra possuía.
A Beija-Flor e Monte alto,
Seu domínio estendia.

No século dezenove
Por um decreto assinado,
Monte Alto se emancipa,
Sendo-lhe incorporado
O arraial Beija-Flor
De urubu desmembrado.

Ao longo desta história
Faz-se pouco comentário,
Dos primeiros moradores,
Grandes latifundiários,
Da Fazenda Carnaíbas
Primeiros proprietários.
A fazenda em destaque
Assim se constituía:
A Carnaíbas de Fora
Que aos Castro pertencia,
E Carnaíbas de Dentro
Onde a Vila surgiria.

Foi João Pereira Costa
Primeiro desbravador,
Da Carnaíbas de Dentro,
Fazendeiro agricultor,
E da feira semanal
Grande incentivador.

Contam os mais idosos,
Que desde a formação,
Beija-Flor já era palco
De brigas e diversão.
A fama dos desordeiros
Trouxe má reputação.

Sem um policiamento
Para o ordem assegurar,
Nos conflitos tão frequentes
Chegava-se a matar,
E raramente o culpado
Conseguia-se flagrar.

É que aqueles desordeiros,
Pra outro lugar fugiam.
Trabalhavam algum tempo,
Noutras brigas se metiam,
E botando pé na estrada
Para mais longe partiam.

Lá na terra bandeirante
Chegavam os bagunceiros.
Neles a índole má,
Sempre falava primeiro,
Sendo por isso chamados
Baianos arruaceiros.

Por pouco se irritavam,
Desaforos não engoliam.
Eram também vingativos
E p”ra desforra partiam,
Assim que os contendores
Em suas frentes surgiam.

Também deixava a terra
O pobre trabalhador,
Mas o conceito formado
Do baiano brigador,
Dificultava serviço
Pra pobre de Beija-Flor.

Não eram só os humildes
Que em briga se metiam.
Pessoas conceituadas
Também matavam, morriam,
Mesmo tendo em serviço
Jagunços que os defendiam

O pobre era chamado
Pau-d’água ou cachaceiro,
Malandro ou vagabundo,
Bandido e bagunceiro.
Do crime era o autor,
Por não possuir dinheiro.

Quantos perderam a vida!
Quantos foram espancados
A mandado dos senhores
Homens valentes e bravos,
Que tinham a seus serviços
Os jagunços e escravos.

Apesar de ter má fama,
Baiano de Beija-Flor,
Das agruras desta vida,
Sempre foi um vencedor.
Como todo sertanejo

É forte e trabalhador.


“Onde cai a semente, fixa a raiz”  pág.: 18 a 28

José Dias Guimarães
A terra amada deixou,
Vindo para a Bahia
Onde raízes  fincou,
E neste nosso sertão,
Fazendeiro se tornou.

Era um português nato
E o oceano cruzou.
Buscando dias melhores
Nas matas se embrenhou,
E qui nestas paragens
Muita terra conquistou.
Fou em Urubu de Cima,
Que José Dias passou,
Uns anos de sua vida
Quando ao Brasil chegou,
E uma índia bororó
Sem demora desposou.

Nasceram seis mamelucos.
Somente dois são lembrados:
Joaquim que doou a terra,
José Pedro implicado,
No mais hediondo crime
No seu tempo praticado.

Em vida o velho pai
Um pedido lhes fazia:
Conservar no lugarejo
Quem ali já possuía,
Um casebre pra morar
E humildemente vivia.

O português imigrante
Desbravador pioneiro,
Deixou a seus descendentes
Seus legítimos herdeiros,
Tudo quanto conquistou
Neste solo brasileiro.

Ao fazer-se a partilha,
Sem haver oposição
Joaquim por ser mais velho
Recebeu em seu quinhão,
Terras onde situava
A nova povoação.

Na década de setenta
Do século dezenove,
Atendendo ao pedido,
Um fato novo ocorre:
Joaquim Dias Guimaraes
Doar a terra resolve.

A ocorrência se deu.
Em dias duma missão,
Lavrando-se um documento
Fazendo a doação,
Das terras adjacentes
À casa de oração.

De mil metros foi a área
Doada naquele dia,
Da fazenda Carnaíbas,
Que então lhe pertencia,
Ao milagroso Antônio
Para a nova freguesia.

Esta terra promissora
Sempre acolhia alguém,
Que vindo de outras plagas
Pra viver aqui também,
Construía seu casebre
À direita do Belém.

O riacho temporário
Só poucos meses corria,
E na época das chuvas
A lagoa abastecia.
Mas nos meses de estiagem
Pouca água ali se via.

Crescendo a população,
O consumo aumentava.
Diminuindo o volume,
Salobra a água ficava,
 Não servindo para tudo
Pois impura se tornava.

A partir do mês de julho,
Em difícil caminhada,
Água que fosse potável,
Tinha que ser apanhada
Na fazenda Caiçara,
E noutras áreas privadas.

Em cabaças, potes, latas,
Pouca água se trazia.
O constante vai-e-vem
Parecia romaria,
Indo do alvorecer
Até terminar o dia.

Os homens sempre mais fortes
Duas latas carregavam,
Penduradas em um pau
Que no ombro colocavam.
Com passos cadenciados
As latas equilibravam.

Tentando amenizar
Dos pobres o sofrimento
Joaquim e companheiros
Comungam o pensamento,
De evitar da lagoa
Um maior escoamento.

Aprovada a ideia
Encontrada a solução,
Duma tapagem de terra
Teve início a construção
Dando oportunidade
Do povo ganhar o pão.

Um coronel lamentou
No problema ter pensado,
Depois de passar um ano
Que o negro escravizado,
Pela Princesa Isabel
Tinha sido libertado.

Dos quatro cantos da vila
Gente às pressas vinha,
Trabalhar de sol a sol
E por pagamento tinha
Um quarto de rapadura
E um litro de farinha.

Dentre os trabalhadores
Uma jovem se achava,
E a gamela de terra
Na cabeça carregava,
De fraqueza desmaiou,
Em jejum se encontrava.

Levantaram-na do chão,
Deram água pra beber,
Enquanto um ex-escravo
A todos fazia ver,
Que o ganho de um dia
Não dava para comer.

“Querem mata nois de fome!
Quem recrama tem razão
Vamo pará o trabaio
Oceis concorda ou não?
Nois diz pro encarregado
Ir avisá o patrão.”

Ciente do ocorrido
Joaquim Dias convocou,
Todos os interessados
E o fato relatou.
Depois de muito pensar
A situação contornou.

Ao procurar solução
Pra o serviço não parar
Alguém lembrou dos caboclos
E sugeriu sem pensar:
“Muito fácil se resolve,
Põe caboclos no lugar”.

3/4 Os caboclos não trabalham.
Retrucou um dos presentes,
3/4  Mas também não incomodam.
Disse Joaquim num repente.
3/4  Não queiram importuná-los
Deixem em paz essa gente.

O porquê da veemência
Com que Joaquim defendia,
Deve-se a uma cura
Ocorrida certo dia,
Quando um ente querido
Em sangue se esvaia.

Um caboclo curandeiro
Foi por Joaquim chamado,
Porque seu filho Vicente
Por jararaca picado,
Muito mal se encontrava
E inspirava cuidados.

O caboclo prontamente
Ao chamado atendeu,
E um preparo de ervas
A Vicente logo deu,
E invocando tupã
O ferimento benzeu.

A partir daquele dia
O coronel se sentia,
Devedor de uma vida
O que nunca pagaria,
Pois a cura de Vicente
Ao caboclo atribuía.

Joaquim não relutou
E pra turma não parar,
Pagar o trabalho livre
Promete sem hesitar,
E As Maria de Brito
Contrata pra cozinhar.

Ao serviço sempre vinha
Muita gente apreciar,
Homens cavando a terra
Mulheres a carregar,
Não faltando Zé Louvado.
Sempre alegre a cantar.

“Louvado Santo cruzeiro
E nois que vai lá leva
Pedra, água, vela, frô,
Pra lá nos pé nois botá
Lovado meu pai do céu
Que a chuva vai mandá.”

Lovada todas as gene
Que aqui vem trabaiá
Que procura vê no sol
A hora de armoçá,
Lovado inhô Joaquim
O dono deste lugá.

No início do serviço
Um fato triste se deu:
Uns ganhavam a vida,
Alguém a vida perdeu.
Ser bonita e cobiçada
Foi o mal que cometeu.

Mil oitocentos e treze
Joaquim Dias nasceu,
E com Clemência Maria
Num lar feliz conviveu,
Seis filhos foram a prole
Que Jesus lhes concedeu.

Além de doar a terra,
O coronel erigiu
A primeira capelinha
Que Beija-Flor possuiu,
E também um cemitério
Pra família construiu.

Aos oitenta e seis anos
Joaquim Dias faleceu,
E sua própria família
Por muito tempo o esqueceu.
E do povo desta terra
Nem respeito mereceu.

Numa terra que foi sua,
Não puderam preservar
Os sete palmos de terra,
Onde ele foi repousar.
Lá não se acende velas,
Lá ninguém via orar.

A família omitiu-se,
E espertalhões invadiram
A área do cemitério,
E casas lá construíram.
Mais tarde da Prefeitura
Documentos conseguiram.

Leocádia, A santa do Povo
Págs.: 29 a 45

O adágio diz que os pés
Levam o corpo à sepultura.
Tentando ganhar a vida,
Uma pobre criatura
Teve a vida ceifada,
Por conta da formosura.

Num seca prolongada.
Por todo este sertão,
Como muitos uma jovem
Tomou uma decisão:
Deixar os entes queridos,
Sair prá ganhar o pão.

Deixando o seu casebre
No Tanque de Juazeiro,
Resolveu ir para a Vila
Prá ganhar algum dinheiro,
Sem saber que o destino
É às vezes traiçoeiro.

Dos pais recebeu a bênção
E a todos abraçou.
Com Dionísio Carreiro
No carro se acomodou,
E na curva do caminho
Mais uma vez acenou.

Olhos fitos na estrada
Sem contudo nada ver!
Desligou-se do presente
E passou a reviver
Momentos dantes vividos,
Que lhe causaram prazer.

Prá começo de conversa,
O preto foi perguntando:
- Vosmecê, já foi na Vila?
- Inhor não. E tô vexano,
Pru mode qui tia Joana
Desdonte tá esperano.

Na rua das Sete Portas,
Em casa de uma tia
Leocádia hospedou-se,
E não pensou que podia
Causar inveja, ciúme,
Que tão cedo morreria!

Dezesseis anos apenas!
Uma flor ainda em botão!
Alvo de tantos olhares
Por maldade ou atração,
E com mentiras forjaram
A sua condenação.

Cabelos castanhos, lisos,
Sobre os ombros caídos,
Pele clara, belo rosto,
Lábios de pouco sorriso,
Olhar suave e triste
De quem muito tem sofrido.

Aqui chegou Leocádia,
Prestes a iniciar
O serviço da lagoa
Que visava represar,
Maior volume de água
Para mais tempo durar.

Com adultos e idosos
Leocádia se fichou,
Prá um trabalho pesado
Que antes não praticou.
E por estar em jejum,
Certa manhã desmaiou.

Com a gamela caiu
E alguém a socorreu.
Tentando reanima-la,
Um copo dágua lhe deu
Disse ter tido tonturas,
E que a visão perdeu.

Um formigueiro humano
Naquele local se via.
De fraqueza e cansaço,
Em suaor se exauria,
Mas  ao ouvir Zé Louvado,
Até que se divertia.

Baixo, magro, de cor clara,
Cabelos despenteados,
Mais ou menos trinta anos.
Não era mal humorado,
Não dava respostas bruscas,
Assim era Zé Louvado.

Na rua das Aroeiras
Vivia sem trabalhar.
Pelo Povoado andava
Sem malefícios causar,
E improvisava versos
Prá ladainha entoar.

“Lovado Santo Antõe
E o Pade de Catité.
Sá Maria das Oveia
E todos os coroné,
Na rua das Sete Porta,
Lovada seja as muié.”

Entre homens e mulheres
Leocádia trabalhava,
E embora maltrapilha
Um coronel a fitava.
E por pena ou interesse
Um vestido lhe ofertava.

Muito tímida e receosa
À tia quis consultar,
E com seu consentimento,
O vestido foi buscar
Na loja de José Pedro,
Que não a fez esperar.

O coronel José Pedro,
Irmão de Joaquim Dias
Era esposo de Raquel,
Mulher ciumenta e fria,
Que não podia sonhar
Que o marido a traía.

O Largo do barracão
Leocádia contornou.
Do balcão de umburana,
Ela se aproximou.
Cabisbaixa e acanhada,
Para o coronel falou:

- Eu vim buscar, coroné.
Diz Leocádia entrando.
-Pois bem! Até que enfim!
E para atrás se voltando,
Pegou o pano escolhido
E três metros foi cortando.

“Deus ajude o Senhor!”
Diz Leocádia ao sair,
E percebeu que dois homens
Estavam a lhe ouvir,
E que por certo iram
O que viram transmitir.

Marcolino, um caseiro,
Do coronel empregado,
Estava com um amigo,
Tião de Março chamado,
No momento da entrega
Do vestido ofertado.

Ao saírem do local,
Marcolino aproximou
Da cozinheira da turma
E de cochicho falou:
“Tu sabe que a santinha,
Um vestido já ganhou?”

Principalmente as jovens
Do boato aproveitaram,
Prá difamar Leocádia,
E tanto, tanto falaram,
Que aqueles mexericos
Na casa grande chegaram

Tentando tirar proveito,
Prá agrado receber,
Uma antiga empregada
Resolve tudo dizer,
A Raquel que de tão pálida,
Parece desfalecer.

Do serviço da lagoa
Foi Leocádia afastada,
Joaquim Dias e a esposa
Tentam acalmar a cunhada,
Que promete se vingar
Pro se sentir ultrajada.

Marcolino seu caseiro,
Que o fato propalou,
Por Raquel pressionado
O companheiro citou,
E ambos testemunharam
Como tudo se passou.

A prepotente Raquel,
Resolve chantagear,
E diz: “Quem viu e falou,
Um sumiço tem que dar.
Ou então, a José Pedro,
Direi quem veio contar.”

Sob ameaça aceitam
O delito cometer,
E o seio de Leocádia
Eles prometem trazer.
Pois Raquel quer prepara-lo
Para o marido comer.

Meia arroba de café
E vinte tostões recebem.
Numa venda falam pouco,
E muita cachaça bebem,
E quase embriagados
O mau tempo não percebem.

E saindo de per si,
Logo vão se encontrar.
E pulando uma cerca,
A janela vão quebrar,
Quando uma tempestade
Começa a desabar.

Noite erma! Nem estrelas
Cintilam na escuridão!
Um crime premeditado
Não chega à execução.
Os carrascos se afugentam
Com chuva, raio, trovão.

Frustrada a tentativa
Procuram arquitetar,
Novo plano criminoso
E procuram se informar,
Onde encontrar Leocádia
Para o fato consumar.

Bem cedo sai Leocádia
Com a roupa prá lavar,
No lajedo da Caiçara
Onde a irão encontrar,
Os malvados homicidas
Que a procuram prá matar.

No lajedo põe a trouxa,
E o embornal de comida
Pendura em uma árvore.
Ao iniciar a lida,
As pisadas de animais
São por ela percebidas.

Os carrascos observam
Se não há gente ao redor,
E vendo que Leocádia
Está realmente só,
Arrastam-na para o mato
Sem complacência, sem dó.

Recebe golpes mortais,
E o corpo ensanguentado
Cai ao chão desfalecido,
E o seio retirado.
Dentro de um embornal
A Raquel será levado.

“Pega a corda, Tião,
Qui é prá nois amarrá
A laje no corpo dela,
E no cardeirão jogá,
Se não essa desgramada
Logo, logo vai boiá.”

- A praga ficô no torno.
Isquici, não truxe não,
Mais vô pegá o cabresto.
- Pois vai correno, Tião
Se arguém vê nois aqui,
Vamo mofá na prisão.”

No século dezenove,
Ano noventa corria.
No segundo mês do ano,
Vinte e três foi o dia,
Que pelas mãos de algozes
A vingança se cumpria.

Deram sumiço na roupa,
Passando a relembrar,
Que nenhuma outra vítima
Entregou-se sem lutar,
Enquanto que Leocádia
Só fez aos Santos clamar.

Com a mente conturbada
Apressam-se em sair,
Mas a voz de Leocádia
Chorando a lhes pedir,
São ecos repetitivos
Que sempre irão ouvir.

Daquele local sinistro
Tião sai a cavalgar,
Um animal sem cabresto
Que mal pode dominar,
E dizendo ouvir gritos
Começa a alucinar.

Marcolino apavorado,
Com cautela entregou
O seio à patroa,
E logo se retirou,
Prá que ninguém percebesse
Que foi ele quem levou.

Raquel assume a cozinha
E não é costume seu.
A si pergunta a caseira:
“O que será que lhe deu?”
E espiando percebe
Que carne ele recebeu.

Ordenou que suas filhas
Antes da hora almoçassem,
E que com ela e o pai,
Na mesa, não se sentassem,
Prá que suas atitudes
Não as decepcionassem.

Estavam os dois na mesa,
Quando Raquel perguntou:
“Estava com muita fome?
E da carne, você gostou?
É o seio da vagabunda
A quem o vestido ofertou.”

Zé Pedro enfurecido,
Tenta a Raquel agarrar.
Ela sai espavorida,
Ele põe-se a vomitar,
E a criadagem atônita
Socorro vem lhe prestar.

A tia de Leocádia
Já muito preocupada,
Dirigiu-se ao lajedo
E ficou apavorada,
Quando viu em uma árvore
A capanga pendurada.

Por dois dias procurou-se
Até ao anoitecer,
Percorrendo a redondeza
Sem nenhum vestígio ver,
E já cansados resolvem
A procura suspender.

Mas logo noutro dia,
Luís tropeiro passou,
No lajedo da Caiçara
E ao caldeirão levou,
O cavalo que sedento,
Não bebeu e refugou.

Um corpo quase boiava
Numa água avermelhada,
E montando seu corcel
Luís sai em disparada,
Prá dizer que Leocádia
Havia sido encontrada.

Em casa do delegado
O veloz corcel parou.
Vicente, dono das terras,
Também os acompanhou,
E uma pinta na mão
O corpo identificou.

Ao retirarem o cadáver,
De dentro do caldeirão,
Vicente estupefato
Faz uma afirmação:
“O cabresto me pertence,
E o criminoso é Tião.”

A putrefação do corpo
Estava adiantada,
Não voltando ao arraial,
Lá mesmo foi enterrada.
Tem feito muitos milagres,
Mas não é canonizada.

Por arbustos e arvoredos,
Circundada a cova está.
Velas, flores, lhe ofertam...
E promessas vão pagar.
Pelo muito que sofreu,
Feliz no céu deve estar.

Andando sem rumo certo,
Tião sempre inquiria,
A quem se aproximasse
Para saber se ouvia,
Os gritos de Leocádia
Que clemência lhe pedia.

Procurando não ouvir,
Os ouvidos apertava,
Enquanto também aos gritos
Prá Raquel ele falava:
“Entrega o seio dela,
Mulher endemoniada.”

Indo para Monte Alto,
Foi visto pela estrada,
Andando já devagar,
Dando grito e gargalhada,
Com dois dias faleceu
Já em terras da Malhada.

Bem perto de Leocádia
Marcolino se escondeu,
E não se sabe ao certo
Com quantos dias morreu.
Pagou caro pelo crime
Tão atroz que cometeu.

Dentro da Toca do Índio
Era que permanecia,
E foi encontrado morto,
No espaço de onze dias,
Quando já se decompunha
E de bichos se cobria.

Raquel, mandante do crime,
A culpa não assumiu.
Às pressas prá Tremedal,
Com duas filhas fugiu.
Zé Pedro vendeu as terras,
E ao encontro delas partiu.

Por algum tempo, Raquel,
Ficou na terra mineira,
E de lá também se muda
Indo para Pitangueiras.
Nesta vida, foi Barretos
Sua morada derradeira.

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