terça-feira, 24 de setembro de 2019


Leitura e Interpretação


Identidade cultural: língua e soberania

ARNALDO NISKIER

Toda a riqueza do conceito de cultura vem da própria origem da palavra, do latim "cultivare", cultivar. Espíritos mais práticos perguntariam: por que gastar o seu latim nestes tempos descartáveis que vivemos? Uma resposta óbvia -pelo menos para aqueles que lidam diretamente com a língua portuguesa e lutam pela sua preservação- é que ela é conhecida como "a última flor do Lácio", ou seja, foi a última ramificação do latim e, por obra e graça de uma pequena nação de desbravadores, Portugal, espalhou-se pelo mundo, fincando raízes na América do Sul (Brasil), na África (Angola, Moçambique) e na Ásia (Goa, na Índia; Macau, na China; e Timor Leste, na Indonésia), tornando-se, entre as 6.000 línguas do mundo, aquela falada por 200 milhões de pessoas - o rico universo da lusofonia.
Para avaliar a importância atual da língua portuguesa, bastam dois dados concretos: ela é hoje falada por 4% da população mundial, numa área de aproximadamente 8% do globo terrestre. Pensando no caso do Brasil, país de dimensões continentais que detém o maior contingente de pessoas falando o português, devemos estar atentos para o fato de que a língua entre nós é uma entidade viva, num processo de constante mutação.
A explosão audiovisual promovida por novos meios de comunicação, como o cinema, o rádio e a televisão, e, mais recentemente, a revolução provocada pelos computadores e pela internet tendem a introduzir, a todo o momento, palavras novas na língua e a "deletar" as antigas. A nossa opção de "bom português" não deve mais ser regida pela noção de "certo" e "errado", mas pelos conceitos de "adequado" e "inadequado" (como enfatizou a professora Cilene Cunha).
Não podemos nunca defender a existência de um apartheid lingüístico, separando o falar do rico e o do pobre. Temos uma realidade plurilingüística, levando em conta basicamente que a norma culta deve ser obedecida sobretudo nos códigos escritos. A compreensão desse fato enseja uma profunda mudança no ensino do português, sabendo-se que é o povo que faz a língua. Pode-se concluir daí que a leitura liberta e nos leva a conhecer melhor o mundo, o outro e a nós mesmos. A linguagem manifesta a liberdade criadora do homem.

Arnaldo Niskier, 68, educador, membro da Academia Brasileira de Letras, é conselheiro do Imae (Instituto Metropolitano de Altos Estudos) e secretário estadual de Cultura do Rio de Janeiro.




01 – A valorização da nossa língua é importante porque
A – seu uso reflete os processos de vivência e as transformações por que a sociedade passa.
B – não valorizá-la seria abrir um espaço para que outro idioma ocupe, entre nós, um espaço maior.
C – veículos de comunicação como o cinema, a televisão tendem a nos fazer acreditar que a imagem supera a palavra.
D – não poderíamos, sem essa valorização, decidir, no uso da língua, o que estaria certo ou errado para um “bom português”.

02 – Se defendêssemos a existência de um “apartheid linguístico”,
A – acabaríamos por negar a existência de uma realidade plurilinguística em nosso país.
B – estaríamos fazendo um julgamento inadequado e desvalorizando alguns falares de indivíduos, pela observação de sua classe social.
C – reafirmaríamos o poder que uma variante linguística tem de se sobrepor à outra, por ser falada por uma quantidade maior de indivíduos.
D – faríamos com que a norma culta continuasse sendo a única variante a expressar claramente as nossas ideias.

03 – Defender a existência de uma “realidade plurilinguística” em nosso país é defender todas as ideias a seguir, EXCETO
A – A língua que serve de forma de expressão a uma determinada comunidade passa por um processo constante de mudanças.
B – A língua reduz sensivelmente seu repertório de palavras, ao entrar em contato com os meios modernos de comunicação de massa.
C – A língua abriga em si uma abertura à multiplicidade de falares, sotaques.
D – A realidade dinâmica da língua ocorre devido ao fato de o homem possuir o dom de criar.

04 – A palavra lusofonia, no texto, refere-se ao conjunto de
A – falantes da língua portuguesa.
B – sons da língua portuguesa.
C – simpatizantes da língua portuguesa.
D – dialetos da língua portuguesa.

05 – Nas línguas, pode haver  variações regionais, sociais e de registros. Dos fatores abaixo, o que se relaciona com a última modalidade é
A – origem geográfica                    B – infraestrutura                C – sociocultural                 D- extraordinário


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